Estimulando a demanda por REDD

The Interim Forest Finance (IFF) project

Estimulando a demanda
por reduções de emissões
de REDD+ no Brasil:
A necessidade de uma
intervenção estratégica
pré 2020

Sobre o projeto de Finanças Florestais Interina
(IFF, sigla em inglês)
O projeto Finanças Florestais Interina (IFF) é uma iniciativa
de colaboração entre o Global Canopy Programme, o Amazon
Environmental Research Institute (IPAM), Fauna & Flora
International (FFI), o UNEP Finance Initiative (UNEP FI),
e o United Nations Ofice for REDD+ Coordination in
Indonesia (UNORCID). O projeto IFF advoga uma estratégia
de intervenção pelos países doadores e os governos dos países
com lorestas tropicais, e instituições públicas inanceiras, para
aumentar a demanda dos setores públicos e privados por
reduções de emissões REDD+, no período interino entre

2015 e 2020.
Para entrar em contato com a equipe de gestão do IFF,
por favor mande um e-mail para
iffmanagement@globalcanopy.org

Citação
Instituto de Pesquisa Ambiental da Amazônia (IPAM),
2014. Estimulando a demanda para reduções de emissões
do REDD+ no Brasil. A necessidade de uma intervenção
estratégica pré -2020: um estudo de caso para o projeto
Finanças Florestais Interinas. Escrito pelo Instituto de
Pesquisas Ambientais da Amazônia (IPAM), Brasília, Brasil.
Publicado pelo Global Canopy Program, Oxford, UK.
© Global Canopy Programme 2014

Agradecimento
Os autores gostariam de agradecer os representantes
do governo Brasileiro, o setor privado e outras partes
interessadas, que dividiram seus pontos de vista ajudando
a modelar as descobertas deste relatório.


O Projeto Finanças Florestais Interina (IFF) foi inanciado pela
Agência Norueguesa de Cooperação para o Desenvolvimento
(NORAD, sigla em inglês). As opiniões e interpretações neste
relatório são as dos autores e não representa necessariamente
as opiniões e interpretações da NORAD.

O Global Canopy Programme (GCP)
O Global Canopy Programme (GCP) é um think thank
sobre lorestas tropicais que atua em defesa da proteção
dos ecossistemas lorestais e da garantia da seguridade de
água, alimentos, energia e saúde a par tir de perspectivas
cientíicas, políticas e econômicas. GCP trabalha com sua
rede internacional – de comunidades lorestais, especialistas
cientíicos, políticos, e lideres corporativos e inanceiros –
com o objetivo de recolher evidencia, gerar entendimento
e catalisar ações para deter a perda lorestal e melhorar os
meios de vida dos povos dependentes das lorestas.
www.globalcanopy.org


Instituto de Pesquisa Ambiental da Amazônia (IPAM)
O Instituto de Pesquisa Ambiental da Amazônia é uma
organização cientíica, não governamental, sem ins lucrativos que
trabalha com políticas públicas e fomento. Desde 1995 o IPAM
trabalha por um modelo de desenvolvimento na Amazônia que
seja pautado pelo crescimento econômico, pela justiça social e
pela proteção da integridade funcional dos ecossistemas da região.
www.ipam.org.br

Fauna & Flora International (FFI)
Fauna & Flora International (FFI) é uma organização de
conservação da biodiversidade que atua em mais de 40
países ao redor do mundo, principalmente em países em
desenvolvimento. Nossa visão é de um futuro sustentável
para o planeta, onde a biodiversidade é efetivamente
conservada pelas pessoas que vivem mais próximo a ela,
apoiadas pela comunidade global. Fundada em 1903, a FFI
é a mais antiga organização internacional de conservação
do mundo e também é uma instituição de caridade registrada.
www.fauna-lora.org


UNEP Finance Initiative (UNEP FI)
O Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente e para
as Instituições Financeiras (LATF – UNEP FI sigla em inglês)
foi estabelecido em 1992 como uma parceria entre políticos
e intermediários inanceiros. Com mais de 200 membros
representando bancos, seguradoras, e investidores do mundo
todo, UNEP FI contribui com as perspectivas de instituições
inanceiras para as Nações Unidas e as atividades globais
relacionadas a inanças sustentáveis. A missão do UNEP FI
é gerar uma mudança sistêmica nas inanças para apoiar um
mundo sustentável através da missão “Mudando as inanças,
inanciando mudança”. www.unepi.org

O Escritório das Nações Unidas para a Coordenação
do REDD+ na Indonésia (UNORCID)
O Escritório das Nações Unidas para a Coordenação do
REDD+ na Indonésia (UNORCID sigla em inglês) é o ponto
focal para o REDD+ na Indonésia, e serve como um organismo
de coordenação e uma instituição de conhecimento. Com base

na vantagem competitiva e conhecimento especializado de oito
Agencias Parceiras das Nações Unidas (UNDP, UNOPS, ILO,
FAO, UNEP, UNESCO, WFP e UNODC) e diversos parceiros
da sociedade civil, UNORCID fornece aos políticos e partes
interessadas a nível nacional através do nível local informações
relevantes e ferramentas para apoiar uma implementação bemsucedida do REDD+. UNORCID foi inaugurada no dia 17 de
novembro de 2011 pelo Secretário Geral das Nações Unidas,
seguindo da assinatura do Memorando de Entendimento (MOU,
sigla em inglês) entre a República da Indonésia e o Sistema das
Nações Unidas em setembro de 2011. www.unorcid.org

Introdução
O projeto “Interim Forest Finance” (IFF) tem como objetivo
abordar a signiicativa falta de inanciamento e demanda
por reduções de emissões de REDD+1 no período que
antecede 2020, quando se espera que um acordo global
sobre mudanças climáticas se concretize. Esta falta de
inanciamento para atividades de REDD+ e o espaço entre
a ofer ta e a demanda por emissões evitadas de REDD+
pode abalar a coniança no REDD+ em um momento crítico.

O projeto IFF visa facilitar o diálogo sobre estratégias para
aumentar o investimento em REDD+ no período até 2020,
trabalhando com governos e o setor privado para identiicar
intervenções que podem ser rapidamente implantadas em
jurisdições especíicas. Nossa abordagem é fundamentada no
reconhecimento de que o inanciamento do setor público será
insuiciente para cumprir as metas de redução de emissões
e de desmatamento. Assim, defendemos a implementação de
intervenções estratégicas e orientadas que possam alavancar
investimentos do setor privado e promover a colaboração
público-privada eicaz para o REDD+.
Para dar suporte a estes objetivos, estudos de caso detalhados
têm sido desenvolvidos para a Indonésia e Brasil, com o objetivo
de compreender e descrever a necessidade de inanciamento

interino para REDD a partir da perspectiva de dois grandes
países com lorestas tropicais. No Brasil, este processo
envolveu a busca de feedbacks sobre todos os elementos
da abordagem do projeto IFF, em par ticular do seu
alinhamento com o panorama estratégico nacional e

da aplicabilidade para o Brasil dos instrumentos inanceiros
identiicados no estudo de escopo IFF.
O resultado do trabalho no Brasil é uma proposta de
implementação de um mecanismo previsto na Política
Nacional de Mudanças Climáticas (PNMC) chamado
o Mercado Brasileiro de Carbono (MBRE), que é descrito
neste relatório. O MBRE poderia promover o investimento
em atividades de REDD+ e ampliar a demanda por reduções
de emissões de REDD+, tanto antes de 2020 e muito além.
Esta proposta é o resultado de um trabalho de pesquisa
e de engajamento com atores chave da sociedade civil,
governamentais e do setor privado, entre Julho de 2013
e Novembro de 2014. O estudo sobre a implementação
do MBRE no contexto do IFF foi liderado pelo Instituto
de Pesquisa Ambiental da Amazônia (IPAM) e contou com
o apoio da BIOFILICA.

Resumo
Informações preliminares do quinto relatório de avaliação
(AR5; sigla em inglês) do Painel Intergovernamental sobre as

Alterações Climáticas (IPCC; sigla em inglês) mostram que o
tempo para limitar o aquecimento global a 2°C neste século
está se esgotando. Ações globais de redução de emissões de
gases do efeito estufa (GEE) para que se atinja este objetivo
se tornam ainda mais urgentes. Um novo ciclo de negociações
terá início na Convenção Climática da Organização das
Nações Unidas (UNFCCC; sigla em ingles), na conferência das
par tes (COP; sigla em inglês) 21 em Paris no inal de 2015.
Este novo ciclo de negociações se dará em um cenário
onde atores chave na negociação, como EUA e China, estão
inseridos em um novo contexto político relativo à mudança
climática. Neste novo contexto, existe uma possibilidade
maior da constituição de regimes mandatórios de redução
de emissões de GEE a par tir de 2020. Tendo em vista este

cenário global, o Brasil enfrenta dois grandes desaios:
a manutenção dos decrescentes níveis de desmatamento
na Amazônia e no Cerrado; e o direcionamento de setores
estruturais da indústria nacional para uma economia de
baixas emissões de carbono. Em ambos os casos ações

estratégicas são necessárias. Uma oportunidade que pode
ajudar a vencer estes desaios é a implementação do MBRE
– Mercado Brasileiro de Redução de Emissões, onde o
inanciamento das ações para redução do desmatamento
no país pode ser conectado às reduções de emissões em
outros setores da economia. Dependendo da forma de
implementação deste mercado, ele pode gerar incentivos
para colocar o Brasil em uma posição estratégica em um
potencial regime mandatório de redução de emissões após
2020 garantindo também o inanciamento necessário para
manter a redução do desmatamento na Amazônia.

1Redução das Emissões do Desmatamento e Degradação lorestal e ao manejo sustentável das lorestas (REDD+)

1

Seção 1: O contexto Internacional
De acordo com o relatório preliminar de avaliação do IPCC (AR 5)2, o tempo para reduzir as emissões de gases
de efeito estufa (GEE) a um patamar que limite o aquecimento global a 2°C neste século está se esgotando.
A medida que o tempo passa, os custos de mitigação e adaptação aumentam. Apesar dos esforços nacionais

e internacionais na mitigação da mudança climática, as emissões de GEE cresceram em média 2,2% por ano
entre 2000 a 2010.(Figura 1).

Figura 1.Total de emissões antrópicas de GEE anuais (GtCO2eq ano) por grupos de gases entre 1970-20103

Gases luorados
N20
CH4

CO2 de uso da terra e lorestas
CO2 de combustíveis fósseis e processos industriais

+2.2%yr -1
2000 - 2010
49 Gt

50

2.0%
6.2%


+1.3%yr -1
1970 - 2000

Emissões antrópicas de GEE – GT CO2 eq/ano

38 Gt

16%

40
7.4%

0.81%
11%

18%

30

27 Gt
0.44%
7.9%

16%

EUA está mudando, abrindo mais espaço para que o país assuma
metas para redução de emissões de gases de efeito estufa.
Outro ator importante na agenda climática global, a China, também
está promovendo o uso de fontes de energia renovável, em
especial a solar e a eólica, o que vai reduzir a par ticipação do
carvão mineral, hoje responsável por 65% da matriz energética
no país. Em junho de 2014, a China lançou seu sétimo mercado
piloto de carbono e prevê a colocação de metas para redução
de emissões até 2015.

Dado este contexto global, os governos estão inclinados
a avaliar a implementação de tratados climáticos com metas
mandatórias de redução de emissões de GEE. O ano de 2015
é um marco importante neste processo, pois, na conferência
das par tes 21 (COP 21) da convenção do clima da ONU
(UNFCCC) em Paris, se consolida o processo de construção
de um novo acordo climático global que entrará em vigor
a par tir de 2020. Compromissos novos ou mais estritos
no período de 2015-2020 (o período interino) também
serão cruciais.

Finalmente, em novembro de 2014, os dois maiores emissores
de gases que causam o efeito estufa no planeta, China e Estados
Unidos, anunciaram um novo acordo. O presidente dos
EUA Barack Obama e da China, Xi Jinping, em Pequim se
comprometeram a avançar nas negociações climáticas, um ano
antes da conferência do clima de Paris, a partir do qual se espera
um acordo global. Os Estados Unidos se comprometeu a reduzir
entre 26% e 28% das emissões até 2025 em relação aos níveis
de 2005, enquanto a China estabeleceu uma meta para alcançar
o teto de emissões até 2030.

Além das evidências cientíicas, o novo ciclo de negociações
climáticas se desenvolve em um novo cenário global onde
alguns atores chave, como EUA e China, estão revendo suas
posições históricas relativas à agenda climática.

Na Europa, a Alemanha, maior economia do bloco, também
está comprometida a reduzir sua dependência da energia nuclear
e dos combustíveis fósseis. O governo alemão estabeleceu uma
meta de tornar as energias renováveis7 35% da sua matriz
energética até 2020 e 50% até 2030. Já a União Europeia
assumiu uma meta de redução de 40% nas emissões de gases
de efeito estufa até 2030, com metas adicionais em eiciência
energética e utilização de fontes de energia renováveis.

Os Estados Unidos, que juntamente com outras grandes
economias, tem sido historicamente um grande obstáculo
na implementação de um acordo global para reduzir
emissões de GEE, parece estar mudando sua posição.
O Ato de Segurança Climática da América (ACSA sigla em
inglês), também conhecido como projeto de lei LiebermanWarner de 2007, foi o primeiro passo no reposicionamento
político do Congresso dos EUA acerca das mudanças
climáticas, reconhecendo que o aquecimento global é
inluenciado pelo homem.

19%

20
17%

65%
59%

10

55%

0

19

2

É necessário que todos os esforços sejam mobilizados para
manter o aquecimento global médio abaixo de 2°C neste
século, evitando assim impactos maiores e imprevisíveis
à nossa sociedade. Para isso, os níveis globais de emissão não
deveriam ultrapassar a marca de 44 GtCO2e anuais em 2020.
Porém, se os compromissos atuais assumidos por governos
de todo o mundo forem integralmente cumpridos até 2020,
a emissão mundial anual será da ordem de 52 a 56GtCO2e,
ou seja acima da meta em 8 a 12 GtCO2e por ano4.

70

19

75

19

80

19

85

19

90

19

95

20

00

20

05

20

10

2 Fonte: IPCC WGIII AR5 - Final Draft Summary for Policymakers - 12 de abril 2014
3 Fonte: IPCC WGIII AR5 - Final Draft Summary for Policymakers - 12 abril 2014

Desde então, principalmente pela redução de emissões no
setor de energia decorrentes da expansão do uso do gás
de xisto, as emissões de GEE americanas tem diminuído
ano após ano. Durante o primeiro trimestre de 2012, as
emissões de dióxido de carbono (CO2) dos EUA resultantes
do uso de energia foram as mais baixas dos últimos 20 ano5.
Além da expansão do uso do gás de xisto, o aumento no uso
de fontes renováveis e da eiciência energética contribuem para
este cenário. Em junho de 2014, a agência ambiental dos Estados
Unidos, a Environmental Protection Agency, lançou um plano que
contempla metas para reduzir signiicativamente emissões no
setor energético6. Estes são alguns dos sinais de o cenário nos

Em relação às lorestas a agenda avançou signiicativamente
na última conferência das partes. O acordo sobre REDD+
na COP 19 em Varsóvia (Acordo de Varsóvia ou“Warsaw
Framework for REDD+” em inglês) de 2013 oicializou
o mecanismo de REDD+ como instrumento de mitigação
para as mudanças climáticas. No Acordo de Varsóvia
foram deinidos os elementos relativos aos: vetores do
desmatamento, níveis de referência, monitoramento, reporte,
veriicação,inanciamento,ações de mitigação e arranjos
institucionais e salvaguardas. Estes elementos criaram as
condições institucionais para incluir os esforços de redução
de emissão por desmatamento no âmbito da Convenção do
Clima (UNFCCC). Assim, os países contam hoje com o aparato
institucional necessário para desenvolver suas estratégias de
REDD+ internamente, acompanhados por uma entidade
designada para averiguar resultados e, uma vez alcançando
as metas de redução de desmatamento, poder receber
compensação/remuneração por isto.

4 Fonte: The Emissions Gap Report 2013 - United Nations Environment Programme (UNEP), November 2013. 5 Fonte: U.S. Energy Information Administration
– Agosto 2012 6 Fonte: United States Environmental Protection Agency – EPA - Carbon Pollution Emission Guidelines for Existing Stationary Sources: Electric
Utility Generating Units - Proposed Rule by the Environmental Protection Agency on 06/18/2014. 7 Fonte: International Energy Agency - http://www.iea.org

3

Seção 2: O Brasil no contexto internacional

fonte de emissão de GEE no país chegando a ser responsáveis
por quase 80% das emissões anuais brutas de GEE. No entanto,
a redução do desmatamento e mudanças na economia tem
contribuído para uma inversão desta tendência nos últimos anos.

Quando as emissões decorrentes das mudanças no uso do
solo são incluídas nesta análise, o Brasil aumentou a emissão
anual bruta de GEE de 1,39 GtCO2e em 1990, para 1,48
GtCO2e em 2012, um aumento de 7%9 (Figura 3). Até o inal
da década passada,as mudanças no uso do solo eram a principal

No Brasil, importantes setores da economia (industrial, energia, resíduos e agricultura), aumentaram as emissões
de carbono em 15% entre 1997 e 2012. No mesmo período, os EUA e a Europa diminuíram em 11% suas emissões,
e a Alemanha, 24%. A (Figura 2) mostra duas tendências distintas, a redução de emissões de GEE pelos países
desenvolvidos e o aumento pelos países em desenvolvimento.

Figura 3. Emissões brasileiras de GEE de 1990 a 2012 (milhões de tCO2e)10

Mudança de Uso da Terra
Resíduos
Processos Industriais

Figura 2. Evolução da Variação de Emissão de GEE sem Mudança de Uso da Terra entre 1990 e 20128

Energia
Agropecuária

3,000

China
Brasil
U.S.

EU 28
Alemanha

2,500

Variação: 07-12
2,000

310
+47%

1,500

280

250

1,000

220
500
190
+15%
160

0

19

90

19

92

19
9

4

19
9

6

19
9

8

20
0

0

20

02

20

04

20

06

20
0

8

20

10

20
12

130
-11%

100

-11%
-24%

70
19

4

90

19

92

19

94

19

96

19

98

20

00

20

02

20

04

20

06

20

08

20

10

20

12

8 Para China foi utilizada a variação de emissões de 5 anos contemplando o período de 2005 à 2010 Fonte: UNCCC - National Inventory Submissions
2014; Climate Analysis Indicators Tool 2014 - Washington, DC: World Resources Institute; SEEG - Sistema de Estimativas de Emissões de Gases do Efeito
Estufa, Análise da Equipe

Durante a COP15, em Copenhagen, o Brasil assumiu um
compromisso nacional voluntário de reduzir suas emissões
de GEE até 202011 entre 36,1-38,9% em relação às emissões
projetadas para 2020 (Figura 4), através da Política Nacional
sobre Mudança do Clima (PNMC). A mesma PNMC estabeleceu
planos setoriais, com metas de redução de emissão de GEE
para os setores de energia, indústria, mineração, transporte,
siderurgia e agricultura. Além dos planos, já em andamento,

de controle ao desmatamento e queimadas na Amazônia
e no Cerrado, o PPCDAm e PPCerrado, a PNMC prevê dois
instrumentos principais para o fomento de ações de mitigação
e adaptação: a) o Fundo Nacional sobre Mudança do Clima;
e b) o Mercado Brasileiro de Redução de Emissões (MBRE),
onde os títulos de redução de emissões certiicadas poderão
ser negociados.

9 Source: SEEG - System for Estimating Greenhouse Gas Emissions, 2012. 10 SEEG - System for Estimating Greenhouse Gas Emissions, 2012.
11 The projected emissions for 2020 were authorized by Decree 7390/2010

5

GtCO2e, seguido do setor agropecuário com 0,73 GtCO2e
e inalmente o Setor de Processos Industriais e de Tratamento
de Resíduos com 0,23 GtCO2e. O governo federal assumiu
um compromisso voluntário12 de reduzir as emissões em 2020,
entre 1,17 e 1,26 GtCO2e, assim, as emissões totais do país
em 2020 devem icar entre 1,98 e 2,07 GtCO2e. Até agora,
a maior par te das reduções alcançadas pelo país foram
decorrentes da redução do desmatamento, ou seja, o setor
de mudança de uso da terra e lorestas.

1,26

2,19

Desmatamento Efetivo

Média Desmatamento (1996 - 2005)

Simulação de Desmatamento

Meta de Redução

30,000

25,000

Figura 4. Compromisso Nacional Voluntário de Redução de Emissões (GtCO2e)

3,24

Figura 5. Meta de redução de 42% do desmatamento a cada 5 anos, totalizando uma redução de 80% até 2020 em relação
a 2006, de acordo com as metas voluntárias assumidas pelo Brasil na COP-15 em Copenhagen14

Desmatamento annual (km2)

O compromisso voluntário brasileiro de redução de emissões
de gases de efeito estufa está descrito no decreto 7.390/2010,
que regulamenta a PNMC. O compromisso nacional é baseado
na redução de emissões sobre uma projeção das emissões
do Brasil em 2020 em um cenário tendencial. Segundo as
projeções sancionadas no Decreto 7.390/2010, as emissões
totais do país passariam de 2,19 GtCO2e4 em 2005 para
3,24GtCO2e em 2020. Neste cenário, o Setor de Mudança
do Uso da Terra e Florestas seria responsável por 1,4 GtCO2e,
enquanto que o setor de energia seria responsável por 0,87

0,02

1,96

2,02

Max. 2,07
Min. 1,98

20,000

80%

42%
15,000

42%
10,000

42%
5,000

0
19 19 19 19 20 20 20 20 20 20 20 20 20 20 20 20 20 20 20 20 20 20 20 20 20
96 97 98 99 00 01 02 03 04 05 06 07 08 09 10 11 12 13 14 15 16 17 18 19 20

Emissões
2005

Projeções
2020

Reduções Pl.
Set. 2010

Reduções Pl.
Set. 2012

Ao contrário do setor de Mudança de Uso de Solo e Florestas,
os demais setores têm aumentado suas emissões desde 1990.
Analisando as metas de reduções nos Planos Setoriais, muito
provavelmente o compromisso nacional voluntário para 2020
será alcançado,quase que exclusivamente através das reduções
provenientes de mudança de uso da terra, isto é, da redução
no desmatamento.

6

Estimativa
Emissões
2020

Compromisso
Nacional

Um objetivo central da PNMC é reduzir o desmatamento
da Amazônia em 80% (Figura 5). A redução do desmatamento
na Amazônia tem sido sucessiva de 2005 em diante, mas com
uma pressão internacional por aumento de produção de
commodities agrícolas, atrelada à expansão da infraestrutura
(transporte) e de geração de energia, existe um risco real do
aumento do desmatamento, como foi observado no aumento
de 28% do desmatamento em 201313.

12 O Compromisso voluntário foi assumido no art. 12 da Lei12.187/2009
13 Fonte: Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe). Os dados divulgados em Setembro de 2014 apontam que foram desmatados 5.891 km² no
período de agosto de 2013 a julho de 2014 na Amazônia Legal, número 27,8% maior que no período anterior, quando foram registrados 4.571 km.

Esta redução pode ser, em parte, explicada por ações do Plano
de Ação para Prevenção e Controle do Desmatamento
na Amazônia Legal (PPCDAm), e dos Planos Estaduais de
Prevenção e Controle do Desmatamento (PPCDs) presentes
em nove estados da Amazônia Legal, mas também é resultante
de outras ações e iniciativas em curso na região. Em paralelo,
o Brasil vem desenvolvendo sua Estratégia Nacional de REDD+
(ENREDD), que deve contribuir para a transformação das
reduções de emissões em Mudança do Uso do Solo e Florestas
em um importante ativo para o cumprimento de compromissos
dentro do contexto criado pelo Acordo de Varsóvia.
A ENREDD pode coordenar políticas públicas de mudança
do clima e lorestas; mensurar, relatar e veriicar resultados para
os biomas, cumprindo requisitos técnicos deinidos no Acordo
de Varsóvia; e obter inanciamento (captação de recursos para
pagamentos por resultados).

14 Fonte: Ministério do Meio Ambiente

Em junho de 2014, cumprindo com as regras deinidas pelo
Acordo de Varsóvia para o REDD+ na COP 19, o Brasil
apresentou à UNFCCC o instrumento que será utilizado
para determinar as emissões evitadas pela redução do
desmatamento, o nível de referência de emissões para
lorestas, FREL (Forest Reference Emission Level) na sigla em
inglês. Embora o documento seja especiico para o período
entre 2006 e 2010, é possível estimar o potencial de redução
de emissões por desmatamento evitado no período entre
2006 e 2020 utilizando as premissas apresentadas em diferentes
cenários da evolução do desmatamento na Amazônia (Figura
6). Dentro deste contexto, o potencial estimado de emissões
evitadas por REDD+ pelo Brasil no período varia entre 8,3
e 10,0GtCO2e. No entanto, menos de 3% dos resultados
alcançados até agora no bioma Amazônico foram compensados.
As reduções de emissões de GEE que já foram compensadas
até o momento, foram pagas por doadores internacionais
como a Noruega e a Alemanha.

7

Figura 6. Redução de emissões por desmatamento evitado entre 2006 e 2020 considerando
uma meta de desmatamento zero em 2020

Emissão Evitada (2006-2020)= 9,9 Gt CO2

Emissão média (96-2010)

Emissão tCO2

FREL B (2011-2015)

Emissão média (96-2005)

Emissão média (1996-2015)

FREL A (2006-2010)

FREL C (2016 -2020)

1,400

1,200

Milhões tCO2 /km2

1,000

800

600

400

200

0
19 19 19 19 20 20 20 20 20 20 20 20 20 20 20 20 20 20 20 20 20 20 20 20 20
96 97 9 8 99 00 0 1 0 2 0 3 0 4 0 5 0 6 0 7 0 8 0 9 1 0 1 1 1 2 1 3 1 4 1 5 1 6 17 1 8 1 9 2 0

8

Estes esforços não foram adequadamente compensados e, para
que o Brasil consiga cumprir suas metas de redução de emissões
sem reversão dos avanços na redução do desmatamento,
são necessários novos instrumentos de inanciamento para
garantir a implementação do REDD+ na Amazônia.

15 Fonte: Fundo Amazônia

Amazon © Neil Palmer

As reduções de emissões de GEE com a queda do desmatamento
na Amazônia entre 2006 e 201215 superam qualquer outro
esforço nacional de redução de emissões de GEE no mundo.
De acordo com a Figura 6, considerando o FREL, as emissões
evitadas de 2006 a 2013 são da ordem de 4,8 GtCO2.

Seção 3: Conectando o cenário internacional
com o cenário nacional: Mecanismo Interino de
Financiamento para REDD+ a partir do Mercado
Brasileiro de Redução de Emissões (MBRE)
Avaliando o contexto nacional pela ótica do cenário
internacional, foram identiicados três grandes desaios
para o Brasil na agenda climática:
• a implementação de tratados de redução de emissões de
GEE, pós 2020, onde o Brasil deverá ter metas mandatórias;
• a manutenção da redução do desmatamento da Amazônia,e;
• o direcionamento de setores estruturantes da economia
rumo a economia de baixo carbono.
O desaio que se apresenta ao país neste novo contexto
é manter a redução do desmatamento ao mesmo passo em
que se induzem setores estruturais da economia na direção
do baixo carbono, aumentando sua competitividade internacional
num mercado global gradualmente descarbonizado.
A combinação destes dois elementos pode constituir a base
para que o Brasil se posicione de maneira estratégica nas
negociações de um potencial acordo global de redução de
emissões de GEE.
Para promover a conexão entre a redução do desmatamento
e a “descarbonização” da economia nacional, um instrumento
previsto na Política Nacional de Mudanças Climáticas pode se
tornar a peça chave, o MBRE.
Partindo deste contexto foi realizada uma pesquisa junto aos
mais impor tantes setores relacionados à agenda climática
brasileira, com o objetivo de validar premissas, identiicar
potenciais barreiras, bem como a pertinência da implementação
do MBRE como indutor de “descarbonização” da economia
e de redução do desmatamento no Brasil.
Para esta pesquisa, foram realizadas19 entrevistas com
representantes de instituições que serão impactadas direta ou
indiretamente por potenciais metas mandatórias de redução
de emissão de GEE e que estão relacionadas a uma possível
intervenção estratégica para estímulo da demanda por reduções

10

de emissões de REDD+. Inicialmente, as entrevistas tiveram
como objetivo avaliar três premissas fundamentais:
se existirão acordos mandatórios em 2020 que
estabelecerão metas de redução de emissão de GEE;
se o Brasil deve se posicionar estrategicamente, agindo
antecipadamente na redução de emissões de GEE,
antes destes acordos acontecerem; e
se o Mercado Brasileiro de Redução de Emissões
(MBRE) pode ser um mecanismo indutor de uma
economia de baixo carbono posicionando o país de
maneira estratégica frente a possibilidade de acordos
mandatórios em 2020.
Foram realizadas entrevistas com representantes dos
seguintes setores:
• Setor Público: ministérios do governo federal.
• Setor Privado:Fundo Ambiental; Bancos privados
e públicos, fundos de investimento; plataformas de
negociação de ativos ambientais; especialista em mercado
de capitais; empresas de vários setores;
• Terceiro Setor; e,
• Academia.
O resultado da pesquisa revelou uma convergência positiva
para a implementação do MBRE como um instrumento indutor
da descarbonizacão da economia tendo o carbono lorestal
(REDD+) como um dos ativos negociáveis, aumentando assim
as possibilidades de luxo de recursos para inanciar ações
voltadas para fomentar a redução do desmatamento por um
lado e inovação e modernização na indústria por outro. De
forma sintética, o posicionamento consolidado dos entrevistados
em relação as premissas apresentadas foi:

A existência de acordos mandatórios em 2020
que estabelecerão metas de redução de emissão
de GEE.
De maneira geral, todos entrevistados acreditam que existe uma
elevada probabilidade de acordos mandatóriospara a redução
de emissão de GEE serem implementados em 2020. Um dos
principais motivadores para que isso aconteça é o fato de que
países chave na negociação climática estão se posicionando
estrategicamente em relação a esta agenda,principalmente Estados
Unidos e China. A maioria dos entrevistados, no entanto, não
acredita em um grande acordo global com metas mandatórias
para todos países signatários da convenção do clima. Foram
apresentados como fatores restritivos a um acordo único global
mandatório a falta de força política da UNFCCC e o próprio
processo de negociação da convenção onde as decisões são
tomadas por unanimidade. As opiniões convergem para um
cenário dominado por acordos multi e bilaterais em oposição a
um mecanismo vinculante único com imposição de metas.
A Organização Mundial de Comércio (OMC)surge também
como uma entidade onde acordos para redução de emissões
possam ser implementados.
A necessidade do Brasil se posicionar
estrategicamente ante a este cenário.
De maneira geral os entrevistados entendem que o Brasil
precisa se posicionar estrategicamente frente a possibilidade
de implementação de acordos mandatórios para redução
de emissões de GEE após 2020, principalmente para manter
a competitividade dos seus produtos nos mercados internacionais.
Foram identiicados, entre outros, os seguintes aspectos:
• O desmatamento na Amazônia tende a diminuir e as
reduções totais de GEE do país icarão concentradas nos
outros setores da economia onde o custo marginal de
abatimento é substancialmente maior. Existe, por tanto
uma opor tunidade para usar as emissões evitadas por
desmatamento como um “colchão” que permita uma
transição mais suave dos outros setores da economia nacional
para um cenário de baixo carbono.
• A política de clima do Brasil ainda está centrada na agenda
do desmatamento concentrando o debate político nos estados
lorestais do Norte do país. Sem o envolvimento político dos
estados industrializados do Sul, esta agenda pode não ganhar
o apoio político necessário para se consolidar dentro de uma
estratégia de desenvolvimento nacional.

• Falta uma política de longo prazo para reduzir emissões
nos setores estruturantes da economia garantindo
competitividade em um mercado onde as emissões de
GEE podem se tornar um custo a mais para a produção.
• A exploração do petróleo no pré-sal pode se tornar uma
nova fonte signiicativa de GEE aumentando as emissões
totais do país.
• As recentes secas no país reduziram a geração de
energia hidroelétrica o que demandou o aumento da
geração termoelétrica, encarecendo o custo da energia
elétrica e aumentando as emissões de GEE, se este
cenário se repetir as emissões do setor podem crescer
acima do esperado.
No entanto, o país apresenta trunfos para se posicionar
estrategicamente frente a um acordo global mandatório
em 2020, entre eles:
• Utilização do estoque de REDD+ como ativo inanceiro
para inanciamento das atividades de manutenção do
desmatamento evitado;
• A posição diplomática favorável do Brasil nas negociações
de um acordo global mandatório de redução de GEE
pós 2020.
O Mercado Brasileiro de Redução de Emissões
(MBRE) pode ser um indutor para o Brasil se
posicionar frente a esta possibilidade de acordos
mandatórios em 2020.
O MBRE é visto como uma opor tunidade de aumento da
competitividade e geração de negócios no Brasil. Entretanto,
uma parcela dos entrevistados no setor privado visualiza que
o MBRE pode trazer um custo adicional para a produção
dependendo da maneira como for implementado. As principais
possibilidades que o comércio de emissões apresenta são:
• Obter remuneração pela eiciência produtiva e pelas ações
de “early action”;
• Conseguir quantiicar o investimento ambiental (pegada
ecológica), utilizando-o como diferencial competitivo,
disseminando as melhores práticas e tornando a
competição mais justa;
• Ampliar a participação do mercado de capitais e atrair
investimentos de fundos de pensão para o setor lorestal;
• Gerar e fortalecer uma economia lorestal, remunerando
atividades de preservação;

11

• Fortalecer a PNMC no Brasil, expandindo esta agenda dos
estados amazônicos para os estados industrializados do Sul
do país;

• Reduzir o custo de mitigação setorial. No entanto, para que
o MBRE cumpra seu papel, um conjunto de instrumentos
e mecanismos devem ser implementados, deinindo
modelos para transação, tributação, tipo de título, etc.

Figura 7. Detalhamento da percepção dos atores segmentado por setores

ü Concorda plenamente ! Concorda com resalvas
Partes
interessadas

Setor Público

Setor Privado

Terceiro Setor

Academia

Existirá um acordo global
mandatório em 2020?

!
ü
ü

!

Baixa probabilidade de
acordo global mandatório
na UNFCCC, mas é inevitável que o carbono seja
preciicado.
Existirá o acordo com
diversas possibilidades de
operacionalização:
• Dentro da UNFCCC
• Bilaterais
• Multilaterais
Alta probabilidade de
ocorrer um acordo global
mandatório em 2020.

Alta probabilidade de
ocorrer, porém com um
número menor de
participantes.

O Brasil deve se posicionar
estrategicamente?

!

O MBRE pode ser um agente?

ü

• Risco de tornar-se emissor
de GEE, devido as présal

!
ü

!

Está série de entrevistas mostrou que as premissas iniciais são
pertinentes e que existe um papel importante para o MBRE
como um instrumento de modernização dos setores produtivos
e inanciamento de ativos ambientais. Através da implementação
do MBRE, seria possível inanciar ações para redução do
desmatamento na Amazônia, como o PPCDAm, que vem
encontrando diiculdades de alavancar a quantidade de recursos
necessários para perpetuar o desmatamento evitado.

12

Deve se posicionar
estrategicamente para
consolidar a política nacional
de clima , pois o Brasil ainda
é um relexo da negociação
internacional.

• REDD poderá ser
considerado como activo

• Indústria deve investir em
tecnologia de baixo carbono.
O Brasil tem a vantagem de
poder utilizar o early action
como um colchão para se
adaptar a nova realidade.
O Brasil pode icar em
situação delicada pois com
o desmatamento zero na
Amazônia, as reduções icam
concentradas nos outros
setores empresariais.

 Discorda

!

MBRE pode mudar o
regime político do possível
mercado mandatório
doméstico.
• Reduzir custo para se
adequar as metas
• Aumentar o custo
produtivo
• Fortalecer uma
economia lorestal

ü

Equiparando os custos de
abatimento e tornando as
metas acessíveis para os
vários setores.

ü

Redução custo de mitigação
setorial , fortalecimento da
PNMC e assunto entra na
pauta dos diversos setores
da economia.

Ao mesmo tempo, a discussão climática será incorporada na
agenda dos setores estruturais da economia como indústria,
energia e transporte. Esta conexão pode ser feita através da
implementação voluntária dos planos setoriais já previstos na
PNMC dentro de uma estrutura piloto de mercado representada
pelo MBRE.

Seção 4: Explorando o conceito do MBRE
Neste contexto, no MBRE, os setores regulados pelos planos
setoriais voluntários representam a demanda por reduções
certiicadas de emissões lorestais (REC), sendo a oferta gerada
pelas reduções certiicadas pela Agência Nacional de REDD+
(ANR), prevista na ENREDD,ou a entidade designada para este
im pelo governo federal como previsto no Acordo de Varsóvia.
Assim, para cumprir com as metas setoriais, as empresas podem,
além de reduzir pelos seus próprios métodos suas emissões,
acessar através de alocação por par te da ANR, uma cota de
REC. Nesta alocação voluntária, as RECs continuam sendo
da ANR, mas, podem ser transferidas para empresas através
de leilões anuais. No entanto, existeum descasamento temporal
entre a geração de oferta de reduções lorestais (até 2020)
e a demanda do mercado neste período, uma vez que as metas
são voluntárias, assim o governo federal pode viabilizar esta
conexão temporal através de mecanismos de incentivo para
fomentar a implementação do MBRE.
A Figura 8 ilustra o processo pelo qual uma determinada
quantidade de RECs oriundas do REDD+ pode ser registrada
junto a UNFCCC, em consonância com as normas estabelecidas
com base na metodologia do Forest Reducion Emission Level
(FREL) apresentada pelo Brasil ao secretariado da convenção,
e em seguida transferidas para a Agência Nacional de REDD
(ANR),podendo ser transacionadas dentro do Brasil.
Agência Nacional de REDD+ (ANR), que pode ser criada
com a implementação da Estratégia Nacional de REDD no
Brasil, seria a autoridade nacional designada do Brasil para
gerenciar operações relacionadas ao REDD+. A ANR poderá
operar da mesma forma que Comissão Interministerial de
Mudança Global do Clima (CIMGC sigla em inglês)16, que
opera a relação entre a UNFCCC e o governo brasileiro em
questões relacionadas ao mecanismo de desenvolvimento
limpo (MDL). A ANR seria responsável por determinar o
volume de RECs gerado em um determinado ano, aplicando
a metodologia do FREL registrado junto a UNFCCC e usando
dados sobre o desmatamento na Amazônia fornecidos
pelo PRODES17. Uma vez que as RECs forem registradas pela
UNFCCC elas são transferidas para a ANR.

16 CIMGC-http://www.mct.gov.br/index.php/content/view/4016.html
17 Projeto PRODES: Monitoramento da Floresta Amazônica Brasileira por Satélite

Em seguida as RECs podem ser alocadas pela ANR para: a)
o Fundo Clima, um fundo federal para inanciar o REDD;
e b) diretamente para os estados da Amazônia. Para efeito
de simpliicação, nesta proposta, a divisão entre o Fundo
e os estados seriam iguais, mas na realidade a divisão terá
de ser determinada em negociações entre partes interessadas.
O Fundo Clima e os estados da Amazônia serão, então, capazes
de vender ou alocar as RECs às entidades regulamentadas sob
o MBRE para ajudar a cumprir as suas metas voluntárias no
âmbito do limite de emissões estabelecido nos planos setoriais.
Este mecanismo pode gerar recursos para o Fundo ou para
os Estados que podem apoiar projetos ou políticas públicas
voltadas para a redução do desmatamento. Neste cenário os
estados da Amazônia têm a opção de transferir a titularidade
das RECs para projetos especíicos, em reconhecimento das
reduções de emissões alcançadas por um determinado projeto.
Do ponto de vista das iniciativas de projetos de REDD+, isso
signiica que elas terão de registrar suas ações juntoao Fundo
do Clima ou aos governos estaduais, fornecendo uma indicação
das reduções de emissões que elas esperam alcançar em um
determinado ano. Uma vez que o Brasil registraum volume
total de redução de emissões junto a UNFCCC e estabelece
um volume total de RECs ao inal de cada ano, estas deverão
ser alocadas pela ANR para os diferentes projetos e iniciativas
em linha com as suas contribuições relativas a redução
do desmatamento.Esta abordagem é diferente da que os
desenvolvedores de projeto têm feito historicamente para
gerar RECs, onde o volume de RECs é deinido pela metodologia
elaborada por cada projeto individualmente. Como alternativa,
os desenvolvedores do projeto também serão capazes
de receber fundos dos governos do Fundo ou estado
(dependendo de onde eles registraram sua iniciativa) em
reconhecimento da contribuição que izeram para o volume
total de RECs naquele período.
Para ilustrar como as transações podem ser feitas entre os
vários atores, as setas laranja na igura representam alocações
de RECs, setas azuis representam as operações em que as RECs
são trocados por dinheiro.

13

Figura 8. Representação esquemática da operação do MBRE
Legenda: as setas laranjas representam as alocações das reduções certiicadas de emissões lorestais enquanto que as setas azuis representam
as transações inanceiras
REC = Reduções certiicadas de emissões MBRE = Mercado Brasileiro de Redução de Emissões ANR = Agência Nacional de REDD+

UNFCCC
REC

Baseline

ANR

PRODES

100%
REC

$
Fundo
Clima

MBRE

50%

REC

$
Cap

REC
Cap

Cap

$
Projetos

Uma vez captados os recursos pela ANR, a repartição pode
ser feita de diversas maneiras, como por exemplo utilizando
o conceito de estoque e luxo para os Estados. A divisão para
os Estados não signiica um “repasse” ou direito de uso para os
governos estaduais. Dada a competência dos Estados em gerir
as áreas lorestais, entende-se como premissa que cada Estado
deverá estabelecer uma regulamentação especíica que determina
como se dará a gestão do REDD+ em nível estadual e como
serão repartidos seus potenciais benefícios entre todos os atores
relevantes, como populações tradicionais e indígenas, produtores
rurais, prefeituras,moradores de unidades de conservação,
projetos privados, etc. Estados como o Acre, Mato Grosso
e Amazonas já possuem legislações sobre mudanças climáticas
que viabilizam este sistema. Outros, como o Amapá, estão
desenvolvendo-a.

$

$

50%

$

O conceito de estoque-luxo18 possibilita a alocação das reduções
de emissões com base em dois parâmetros, o Fluxo e o Estoque.
Fluxo: Contribuição de cada estado na redução do
desmatamento (com base em sua taxa histórica de
desmatamento) em relação à redução do desmatamento
veriicado em todo o bioma Amazônia.
Estoque: Quantidade de carbono estocado na área lorestal
dos Estados em relação à área lorestal total do bioma Amazônia.
A distribuição por estado e para o fundo Nacional do Clima
está ilustrado na Figura 9, abaixo.

Compradores
Externos

Estados
REC

Esta divisão pode utilizar uma abordagem de 50% utilizando-se
como critério o estoque lorestal do estado e 50% o luxo de
desmatamento histórico, se mostrando equilibrada na alocação
dos incentivos para cada região, levando em consideração a área,
a cobertura lorestal e a taxa de desmatamento para o bioma
Amazônia e identiicada pelo PRODES.

REC

Figura 9. A distribuição de benefícios de acordo com conceito de estoque-luxo

REC

Agência Nacional de REDD+ (ANR)

Projetos &
Políticas Publicas

Setores

Como o MBRE pode funcionar?
O MBRE é o mecanismo pelo qual as RECs podem ser trocados
por dinheiro dentro do Brasil. Diferentes setores da economia
devem assumir metas voluntarias estabelecidas pelos planos
setoriais. A im de cumprir com as metas, esses setores terão
de tomar medidas que podem incluir a utilização de RECs. Tanto
os governos estaduais da Amazônia quanto o Fundo poderão
distribuir RECs no mercado, juntamente com outras instituições
que podem ter recebido alocações de RECs pelos resultados
que alcançaram. Reconhecimento de iniciativas que assumiram.
Setores que estão sujeitos a um limite de emissões podem
transacionar RECs com estes agentes através do MBRE para
cumprir suas metas.
Os instrumentos utilizados pelo governo para fomentar a
implementação do MBRE poderão compreender, por exemplo,
a isenção iscal e políticas tributárias diferenciadas. Neste caso,
deduções ou isenções seriam concedidas a empresas que

14

cumprissem suas metas de redução utilizando uma parcela de
REC adquiridas em leilão. O recurso arrecadado com os leilões
de RECs, poderiam ser utilizados pela ANR para inanciar a
implementaçãodas ações relativas ao REDD+. A partir de 2020,
com o possível aumento da demanda pelo mercado, a ANR
poderá leiloar as RECs acumuladas no período entre 2006
e 2020, que não foram absorvidos pelo mercado anteriormente.
As RECs adquiridas por empresas e investidores que não foram
aposentadas para cumprimento de metas de redução poderão ser
comercializadas, capitalizando industrias para promover reformas
mais profundas de redução de emissões nas suas instalações.
Esta abordagem consiste em um investimento, a longo prazo,
em ativos lorestais para o governo brasileiro, e, para os futuros
setores regulados representa custos baixos e subsidiados
para a adaptação à inexorável economia de baixo carbono
e manutenção da competitividade brasileira, enquanto garante
um luxo de capitais para as lorestas perpetuando os esforços
de redução do desmatamento atingidos.

Estados

Fundo Nacional
do Clima
PA

MT

AM

RO

AC

MA

TO

RR

AP

24%

20%

27%

9%

6%

3%

4%

4%

3%

4.93 GtCO2

4.93 GtCO2

(MT- Mato Grosso, AM- Amazonas state, RO- Rondônia, AC- Acre, MA- Maranhão, TO- Tocantins, RR- Roraima, AP- Amapá, PA- Pará)

18 IPAM. 2012. REDD no Brasil: um enfoque Amazônico. 3ª Ed.

15

Seção 5: Mecanismos para catalizar
a implementaçã do MBRE.
Na seção abaixo apresentamos algumas possibilidades de
mecanismos para catalisar a implementação do MBRE, os quais
dependem de análise aprofundada quanto à operacionalização
e ao impacto e do debate para discussão da viabilidade técnica
e política destes mecanismos.

luxo de capitais para ações de REDD+ (tanto jurisdicionais como
projetos), ao mesmo tempo em que cria incentivos para diminuir
a intensidade de carbono da economia brasileira. Neste contexto,
exploramos abaixo três mecanismos que podem contribuir para
acelerar este processo.

O estabelecimento do MBRE antes de 2020 tem como objetivos
principais a descarbonizarão da economia e a geração de demanda
para RECs de REDD+, proporcionando assim o aumento do

Esses mecanismos são apresentados com uma breve descrição
do mesmo, seguido de uma análise sucinta de prós e contras e de
condições para sua implementação visando os objetivos listados acima.

5.1. Incentivos iscais para a compra de reduções de emissões de REDD+ antes de 2020.
O Governo ofereceria créditos iscais ou isenções com a condição de que haja a compra de reduções de emissões
antes de 2020, que poderão ser retiradas agora ou no futuro, ou guardadas como um ativo para a venda. O esquema
seria aberto somente para entidades em setores onde as emissões serão reguladas.
PRÓS

CONTRA

Estimular demanda para reduções de emissões diretamente.

O estoque teria que ser gerenciado cuidadosamente para evitar
estoque extra no mercado em um período imediato – senão a quantidade de fundos levantados para apoiar REDD+ será bem menor do
que o necessário.

Pilotar o MBRE como um mecanismo para a venda/troca.

Uma possível diiculdade se o governo estiver somente estimulando
uma parte de um mercado maior (por exemplo, créditos de REDD+
em um mercado geral de emissões) – incluindo a resistência de
empresas operando em outras partes do mercado.

O nível de incentivos tem que ser adequadamente
avaliado para ter o impacto esperado na estimulação
de inovações e na redução dos custos de mitigação
entre as empresas no mesmo setor.

Vender somente contratos futuros que se liquidam após
2020 (assegurar que as reduções de emissões possam
somente ser retiradas depois de 2020, reduzindo
opor tunidades para especulação).

Incentivos deveriam ser limitados aos compradores em
setores regulamentados após 2020, limitando o volume
de reduções de emissões que podem ser compradas.

Aquelas empresas que ultrapassarem as metas para as
reduções de emissões podem através de suas próprias
ações receber o incentivo iscal.

Leiloar uma quantia ixa de reduções de emissões
cada ano anterior a 2020, menor que a quantia que se
espera ser necessária a partir do ano 2020 (para evitar
uma inundação do mercado e abaixar extremamente
o preço do carbono em 2020).

16

Rio Branco, Acre, Brazil © Katie Evans

Condições Propícias:

5.2. Preço mínimo para as reduções de emissões de REDD+ de 2020 até 2030 (ou datas alternativas).
Para as reduções de emissões de REDD+, um preço mínimo iria garantir um valor mínimo de 2020 em diante. Isto signiica
que um aumento no valor das reduções de emissões de REDD+ após 2020 estará garantido através de uma política ao invés
de coniar no aumento da demanda para elevar o preço.

PRÓS

CONTRA

Poderia estimular a demanda para comprar reduções de emissões de
REDD+ a baixo custo para estocar, porque os compradores sabem
que o valor do estoque será maior no futuro.

O preço a curto prazo será menor que o preço no futuro, como
os compradores precisam ter certeza de que obterão lucros no
investimento – então os valores destinados às lorestas a curto prazo
podem ser limitados.

Não é necessário nenhum investimento da parte do governo agora,
e talvez não haverá nenhum custo público sig