As hipoteses explicativas para as desigu

As hipóteses explicativas para as
desigualdades regionais:
a visão estruturalista de Celso Furtado

Introdução
• Existem várias hipóteses sobre a origem e persistência da desigualdade regional
brasileira.
• Rands defende que muitas destas hipóteses são consideradas incompletas por não
apresentarem uma boa fundamentação ou por não passarem nos testes empíricos.
• Aquela que Rands acredita com a mais estruturada e a mais influente foi a apresentada
por Celso Furtado em seu livro A Operação do Nordeste (1959) e no documento do
GTDN (1959). Embora, ele discorde veementemente dos seus argumentos.

Hipótese baseada nas diferenças em capital humano.
• De acordo com esta hipótese as regiões teriam diferentes rendas por que possuem
níveis desiguais de estoque de capital humano.
• Rands observa que ao tomar como comparação somente os anos médios de estudo
da população com mais de 14 anos entre o Nordeste e o Sudeste, as diferenças não
seriam tantas como é mostrado no PIB per capita destas regiões.
• Porém, deve-se ressaltar o papel da qualidade da educação ofertada nos
munícipios. Esta teria um impacto significativo sobre a redução da desigualdade.


Hipótese baseada nas diferenças climáticas
• Por esta hipótese as condições climáticas teriam um importante papel na desigualdade. O Nordeste possui
uma extensa área de terra, cujo clima é seco e pouco favorável ao desenvolvimento de atividades produtivas.
• A presença desta região semiárida seria responsável pelo atraso econômico relativo da região.
• O autor cita o Japão como forma de refutar esta teoria, já que este país se desenvolveu em situações
ambientais muito adversas.
• Há também algumas simulações realizadas pelo autor que mostra que mesmo se a região do semiárido
tivesse o mesmo PIB per capita dos municípios que ficam fora desta região e da região metropolitana, ainda
assim, a diferença entre o Pib per capita do Nordeste e o Pib per capita do Sudeste não iria se alterar de
forma significativa.

Hipótese baseada nas diferenças em capital social

• Nanetti (1993) buscou explicar as desigualdades regionais na Itália com base no
conceito de capital social.
• O conceito de capital Social pode ser dado por:
i. a confiança que os indivíduos têm uns nos outros;
ii. as redes de relacionamento que os indivíduos constroem na vida;
iii. as organizações voluntárias que existem nas comunidades; e

iv.

a propensão dos indivíduos a cooperarem.

• Mesquita (2009) aponta que a formação social do Sul e Sudeste, que teve uma
base social mais homogênea e menos conflituosa do que no Nordeste, levou à
formação de comunidades em que o nível de capital social é maior. Portanto, esta
regiões apresentaram uma maior crescimento em relação as outras regiões.

Hipótese baseada no papel das amenidades
• A presença de amenidades poderia ter um papel importante sobre a desigualdade.
Amenidades pode ser definida aqui como a presença de fatores que torne a vida mais
amena ( clima agradável, praias, áreas verdes, parques, jardins, acesso ao lazer e a cultura;
bons serviços públicos, entre outros).
• Desta forma, os indivíduos que moram em lugares amenos estariam dispostos a receber
menos. Já quem mora em lugares menos agradáveis, o mercado remunearia melhor para
compensar o efeito negativo do local.

• Estas evidências foram primeiro observadas por Roback (1982) as diferenças de
remunerações entre as localidades, observadas mesmo para indivíduos igualmente

produtivos, refletiriam os diferentes níveis de disponibilidades destas amenidades
ou bem públicos nas localidades, de forma que, sob equilíbrio (inexistência de
ganhos com arbitragem locacional), as localidades mais bem (mal) servidas com
respeito às referidas amenidades apresentariam menores (maiores) remunerações
para os seus residentes.

• De acordo com Rands, uma das explicações baseadas nas amenidadas é de
que as pessoas preferem residir próximo aos seus familiares. Então, os
nordestinos receberiam menos dado a essa preferência.
• Entretanto, para este autor, esta hipótese não se sustenta com dados
empíricos por que ele percebeu que parte da desigualdade era alimentada por
diferenças na qualidade do capital humano entre estas duas regiões e não por
diferenças nas remunerações de indivíduos com os mesmos atributos.

Hipótese baseada em diferenças nas instituições
• A ideia de que diferenças na qualidade das instituições podem explicar
desigualdades nos níveis de desenvolvimento entre países.
• “Instituições são organizações ou mecanismos sociais que controlam o
funcionamento da sociedade”. Quanto mais as instituições forem fortes maior é a
segurança das pessoas que as normas sociais serão respeitadas.


• As principais instituições sociais são:
• Instituições Familiares: primeira instituição da qual fazemos parte e que possui como funções principais:
reprodução, econômica e educacional. Segundo sua estrutura, ela pode ser monogâmica (formada por um
cônjuge), poligâmica (formada por mais cônjuges), ou ainda com estrutura de poliandria (mulher casada com
mais de dois homens) e poliginia (homens casados com mais de uma mulher).
• Instituições de Ensino: instituições empenhadas em disseminar o conhecimento, por exemplo, as escolas e as
universidades. Tal qual a família, trata-se de uma instituição social que passamos grande parte da vida.
• Instituições Religiosas: criadas para preencher as lacunas metafísicas da vida social, sendo baseada em
dogmas, crenças e tradições, por exemplo, as igrejas, templos.
• Instituições Econômicas: regula a vida econômica dos agentes sociais, por exemplo, os bancos e as casas de
crédito.
• Instituições Políticas: como principais instituições políticas temos o Estado (e os poderes legislativo,
executivo e judiciário), a Nação (o que reúne as pessoas que compartilham costumes, tradições, valores) e o
Governo (monarquia e república).
• Fonte: https://www.todamateria.com.br/instituicoes-sociais/

• No caso do Nordeste, os arranjos institucionais poderiam ter acentuado o nosso
atraso. O sistema de coronelismo o qual o Nordeste ficou sujeito por vários anos.
• A existência de elites locais que se apropriaram do poder público para benefício

próprio.
• Resultados: baixo investimento na educação; benefícios para empresas poucos
competitivas; a fragilidade das instituições também atrasou a migração do capital.

Hipóteses estruturalistas de Celso
Furtado
• A ideia central é que a liberação de recursos advindos
da atividade de exportação do café teria permitido a
formação da indústria no Sudeste. No Nordeste, embora
tivesse o açúcar como o principal produto exportado, a
queda do seu preço veio antes de se formar uma classe
consumidora para produtos industrializados.

• Rands argumenta que as ideias de Celso estão baseadas nas seguintes hipóteses:
• Retornos crescentes e escala mínima de produção;
• Tendência à aglomeração espacial da produção;
• O mercado de trabalho não arbitra entre regiões, ou seja, a migração não era
suficiente para alterar os equilíbrios de rendas entre as regiões e no máximo ela
alteraria a taxa de desemprego;
• A qualificação da mão de obra é guiada pela demanda. Ou seja, quando surge

demanda por mão de obra de determinada qualificação, tanto técnica quanto de
formação geral, a economia encontra seus mecanismos para ofertar essa mão de
obra, sendo a imigração, inclusive, uma dessas possibilidades para saciar a demanda.

• Para Rands não há evidências empíricas para algumas ideias levantadas por
Furtado. Ele mostra que estudos recentes demonstram o oposto que investimento
na formação e qualificação na mão de obra tem impacto significativo sobre o
crescimento de um país.
• Um outro ponto que Rands discorda de forma contudente das ideias de Furtado
diz respeito sobre a importância da industrialização no processo de redução das
desigualdades regionais. Para Rands, o Nordeste industrializou-se, mas não
reduziu o seu atraso relativo.