Andradeg, Elsa Monteiroh, Leopoldo Maria Lemos Cunha Matosie José Cotterj
Reprocessamento em endoscopia digestiva
Guidelines for reprocessing in digestive endoscopy
Cristina Costa a b c , d Elaine Pina , Etelvina Ferreira , Susana Ramos ,
f Marie g Isabelle Cremers , Pedro Figueiredo , Joaquim Andrade ,
Elsa Monteiro h , Leopoldo Maria Lemos Cunha Matos i e José Cotter j
a Divisão da Seguranc ¸a do Doente, Direcc ¸ão-Geral da Saúde
b Programa Nacional de Prevenc ¸ão e Controlo de Infecc ¸ão Associada aos Cuidados de Saúde, Direcc ¸ão-Geral de Saúde
c Comissão de Controlo de Infecc ¸ão, Hospital dos Lusíadas, Lisboa, Portugal
d Gabinete de Gestão de Risco, Hospital de Santa Marta, Lisboa, Portugal
e Servic ¸o de Gastrenterologia, Hospital de São Bernardo, Centro Hospitalar de Setúbal, EPE, em representac ¸ão da Sociedade
Portuguesa de Endoscopia Digestiva
f Servic ¸o de Gastrenterologia, Hospitais da Universidade de Coimbra, Coimbra, Portugal, em representac ¸ão da Sociedade
Portuguesa de Endoscopia Digestiva
g Unidade de Endoscopia, Hospital Senhora da Oliveira-Guimarães, Portugal, em representac ¸ão da Associac ¸ão Nacional de
Enfermeiros de Endoscopia Digestiva
h Unidade de Técnicas de Gastrenterologia, Hospital de São Bernardo, Centro Hospitalar de Setúbal, EPE, Portugal, em
representac ¸ão da Associac ¸ão Nacional de Enfermeiros de Endoscopia Digestiva
i Servic ¸o de Gastrenterologia, Centro Hospitalar de Lisboa Ocidental, EPE, Lisboa, Portugal, em representac ¸ão da Direcc ¸ão do
Colégio de Especialidade de Gastrenterologia
j Servic ¸o de Gastrenterologia, Hospital Senhora da Oliveira-Guimarães, Portugal. Direcc ¸ão-Geral da Saúde para a área da
Gastrenterologia
Recebido a 17 de julho de 2012; aceite a 17 de julho de 2012
Disponível na Internet a 1 de setembro de 2012
Introduc ¸ão
A descontaminac¸ão de endoscópios tem sido objeto de
recomendac¸ões nacionais e internacionais. Contudo, algu-
O reprocessamento adequado dos endoscópios flexíveis e mas das recomendac¸ões nem sempre são aplicáveis na
dos respetivos acessórios é parte essencial do programa
prática. Torna-se por isso necessário identificar e avaliar os
de seguranc¸a e de garantia da qualidade em endos-
riscos inerentes ao procedimento a fim de os categorizar e
copia digestiva 1 . O material endoscópico tem algumas
caracterizar, de forma a introduzir medidas para os eliminar
particularidades que dificultam a sua descontaminac¸ão,
ou, quando isso não é praticável, minimizá-los na medida do
nomeadamente fatores relacionados com a presenc¸a de possível.
ângulos agudos, juntas, superfícies fechadas inacessíveis e Apesar dos desenvolvimentos tecnológicos como mecanismos diversos, o número e tipo de canais, o seu com- máquinas de reprocessamento automático, introduc¸ão primento e flexibilidade, a composic¸ão com materiais de de novos desinfetantes e endoscópios de mais fácil várias características, e a termossensibilidade. desinfec¸ão, os princípios orientadores de descontaminac¸ão
continuam os mesmos 2---4 .
Por outro lado, a diversidade de locais onde se efetua
∗ Autor para correspondência. o reprocessamento de material de endoscopia torna neces-
Correio eletrónico: [email protected] (M.I. Cremers). sário desenvolver recomendac¸ões flexíveis que se adaptem
0872-8178/$ – see front matter © 2012 Sociedade Portuguesa de Gastrenterologia. Publicado por Elsevier España, S.L. Todos os direitos reservados.
http://dx.doi.org/10.1016/j.jpg.2012.07.017
242 C. Costa et al.
às diferentes realidades, sem pôr em causa a eficácia do
Secc ¸ão 2: estrutura física e ambiente
processo e a seguranc¸a dos profissionais e dos utentes.
É ainda necessário reconhecer que nem todas as medi- A UED deve disponibilizar uma área separada para o repro-
das possuem evidências claras para a sua recomendac¸ão, cessamento com zonas específicas para sujos, limpos e
nomeadamente: o tempo de armazenamento após o qual
armazenamento, possibilitando a circulac¸ão do material
é necessário reprocessar o material endoscópico antes
endoscópico num só sentido.
da sua utilizac¸ão, o papel do controlo microbiológico
A área deve dispor de um sistema de ventilac¸ão e do material endoscópico para assegurar a qualidade e extrac¸ão de ar adequado e controlo da temperatura e humi-
eficácia dos procedimentos adotados, a durabilidade e dade. Cat IB e IC 1,5---7
longevidade dos endoscópios e a sua relac¸ão com a pos-
Deve existir uma bancada com 2 cubas para lavagem e
sibilidade de se obterem reduzidos níveis de desinfec¸ão
enxaguamento do material endoscópico.
após determinado número de anos ou procedimentos
As devem ter o tamanho 1 cubas adequado de modo a per-
efetuados . mitir a correta lavagem manual do material endoscópico, e a
As Unidades de Endoscopia Digestiva (UED), na promoc¸ão sua localizac¸ão e disposic¸ão devem salvaguardar a exposic¸ão
de boas práticas para a melhoria contínua da qualidade
dos profissionais de saúde a riscos biológicos, químicos e
e da seguranc¸a nos cuidados, devem seguir as seguintes
ergonómicos.
recomendac¸ões: Na área de reprocessamento deve existir um lavatório
exclusivo para a higienizac¸ão das mãos 8 .
Secc ¸ão 1: organizac ¸ão e gestão
Secc ¸ão 3: seguranc ¸a e saúde dos profissionais
Desenvolver um procedimento escrito e datado que
estabelec¸a as diretrizes para o reprocessamento de A área
de reprocessamento deve ser concebida de mate- modo a
rial endoscópico. O procedimento deve ser revisto a cada garantir um servic¸o
eficiente e efetivo sem risco para pro-
3 anos. fissionais e
utentes.
Nomear um profissional como responsável pelo reproces- Os profissionais
de saúde devem realizar exames de saúde
samento de material endoscópico, com definic¸ão das suas periódicos. Cat 1C
func¸ões e responsabilidades, as quais devem incluir a auto- O equipamento de protec¸ão individual (EPI) necessário para nomia intervir sempre que se identifiquem falhas nas para a atividade de reprocessamento
deve estar disponível
na UED, em quantidade e qualidade adequadas. Cat I C práticas 8 de reprocessamento.
Nas UED integradas em unidades de saúde, onde é obriga- Luvas de
uso único, de punho elevado, resistentes a quí-
tória a existência de Comissões de Controlo de Infec¸ão, estas micos.
Máscaras e óculos de protec¸ão ou devem participar na definic¸ão e monitorizac¸ão das diretri- visores faciais comple-
zes para o reprocessamento. Nas outras UED esta func¸ão será tos.
Aventais de plástico com mangas ou atribuída ao Responsável Técnico. batas impermeáveis,
Efetuar uma avaliac¸ão de riscos anualmente ou sempre com mangas compridas e punho.
Todos os profissionais de saúde devem que as circunstâncias se alterem. utilizar o EPI de
Promover reuniões regulares de equipa para a análise risco
e acordo com a avaliac¸ão de efetuada.
discussão das diretrizes e outras questões relacionadas com Todos os
profissionais envolvidos na utilizac¸ão de quími-
cos deverão estar o reprocessamento. informados acerca dos riscos que podem
a os incidentes relacionados com utilizac¸ão destes produtos.
Registar e analisar ocorrer durante
falhas no reprocessamento na UE, com notificac¸ão
Deve existir um procedimento escrito e datado para a
para o sistema de reporte de eventos adversos da eliminac¸ão segura dos resíduos líquidos com risco biológico ou químico de acordo com instituic¸ão. as Fichas de Dados de Seguranc¸a
Registar evidências de que foram tomadas as medidas dos detergentes
e desinfetantes utilizados e a legislac¸ão em
reportados.
apropriadas mediante os incidentes vigor. O
procedimento deve ser revisto a cada 3 anos.
Deve existir um Realizar auditorias internas aos procedimentos de repro- procedimento escrito e datado para situac¸ões de derramamentos de químicos. O procedimento cessamento.
Os relatórios das auditorias devem ser analisados e dis- deve ser revisto a cada 3 anos.
equipa. Deve existir um procedimento escrito e para Os relatórios das auditorias com as propostas situac¸ões de derramamentos de líquidos orgânicos. O pro-
cutidos com o responsável e com a datado
de melhoria ser devem enviados ao Conselho de cedimento deve ser
revisto a cada 3 anos.
Administrac¸ão/Responsável Técnico.
Disponibilizar as Fichas Técnicas e Fichas de Dados de Secc ¸ão 4: formac ¸ão
Seguranc¸a dos detergentes, desinfetantes, e do material
endoscópico de forma a garantir a sua utilizac¸ão de acordo Todos os profissionais que realizam o reprocessamento com as recomendac¸ões do fabricante. devem ser qualificados e ter formac¸ão e treino no manu-
Definir um plano de integrac¸ão para os profissionais que seamento do material endoscópico e no cumprimento das
trabalham na área do reprocessamento, com registos com- precauc¸ões básicas para a prevenc¸ão e controlo de infec¸ão.
provativos de formac¸ão no manuseamento dos vários tipos Cat. IA 1,2,8,9
de material endoscópico e de reprocessamento existentes É essencial que haja prática regular e formac¸ão contínua
na UED. a fim de os profissionais se manterem atualizados. Mesmo
Reprocessamento em endoscopia digestiva 243 sendo recomendável o uso de RAE, os profissionais devem imediatamente adjacente à sala de exames (não deve haver
ser treinados em métodos manuais a fim de garantir o repro- circulac¸ão por zonas de utilizac¸ão comum). Caso haja pas-
cessamento nas pequenas UED assim como em caso de falha sagem por zonas comuns, o contentor deve ser fechado e
mecânica, de forma a não colocar em causa a eficácia do estar identificado. Cat. II 10 processo e a seguranc¸a do utente e dos profissionais.
Deve ser realizada formac¸ão interna obrigatória bienal e
sempre que se verifiquem alterac¸ões significativas na área B: Limpeza Manual
do reprocessamento, para todos os profissionais interveni-
entes no processo. O teste de fugas deve ser realizado de acordo com as Toda a formac¸ão deve ser registada. instruc¸ões do fabricante e antes de cada ciclo de reproces-
As instruc¸ões de todo o material endoscópico, as polí-
samento a fim de se verificar qualquer dano das superfícies
ticas e procedimentos, assim como as Fichas de Dados de internas e externas do endoscópio. Cat. IB 5,6,8---10 Em caso de
Seguranc¸a dos produtos devem estar acessíveis aos profissi- detec¸ão de fugas, o reprocessamento deve ser interrompido
onais.
de imediato e ser providenciada a reparac¸ão do endoscópio.
Neste caso, o profissional deve sinalizar que o endoscópio
Secc ¸ão 5: reprocessamento do endoscópio não se encontra desinfetado.
O endoscópio deve ser completamente imerso em água
A maioria das diretrizes para reprocessamento do endoscó- com detergente de acordo com as instruc¸ões do fabricante.
pio 1,5,6,8---10,12 indica
6 passos: Cat. IB
Todas as válvulas e outros componentes removíveis do
endoscópio devem ser retirados (válvula de succ¸ão, válvula 1) Limpeza
de ar/água, válvula do canal de trabalho e outros acessó-
a. Preliminar
IB
rios). Cat. 1,5,6,8---10,12
b. Manual
As superfícies
externas do endoscópio, as entradas das
2) Enxaguamento (para remover resíduos do detergente) válvulas e respetivas aberturas, devem
ser inspecionadas Desinfec¸ão
e limpas utilizando uma compressa de tecido não tecido
e um escovilhão macio, a parte distal do endoscópio deve Secagem ser limpa com uma escova macia nomeadamente as pon-
4) Enxaguamento (para remover resíduos do desinfetante
6) Armazenamento
tes/elevadores. Cat. IB 1,5,6,8---10,12
Os endoscópios que entram em contacto com membranas Os escovilhões e escovas podem ser de uso único ou reuti- lizáveis. Caso sejam reutilizáveis, devem ser reprocessados
de acordo com as indicac¸ões do fabricante.
mucosas, são classificados como artigo semicrítico e devem
de alto nível após
ser submetidos no mínimo a desinfec¸ão
1,5,6,9,10---12
Todos os canais e lúmenes devem ser preenchidos e
O reprocessamento dos endoscópios deve irrigados com a soluc¸ão de limpeza. Devem ser ser usados realizado
cada utilizac¸ão (Cat. IA )
adaptadores de endoscópios específicos para garantir o pre-
de
por profissionais treinados e numa zona específica para o
enchimento completo e a lavagem com detergente a fim
mesmo logo após cada procedimento.
o material orgânico. Cat. IB 1,5,6,8---10,12 O reprocessamento dos endoscópios deve ser realizado
remover todo
e no fim de 1 Todos os canais acessíveis devem ser limpos com cada um sessão .
entre procedimentos
escovilhão flexível com cerdas macias e intactas concebidas para esse fim, de tamanho adequado, de
O reprocessamento no início de cada sessão irá depen-
modo a garantir o contacto com as
der do tipo de armazenamento dos endoscópios. Se houver
paredes do canal e até que o escovilhão
armário com barreira se encontre visivelmente limpo no final do processo. sanitária) Cat. ou 12 horas (endoscópios 1,6,8,9,14
superior a 72 h (endoscópios em
um período de paragem
em armário sem barreira sanitária) estes devem ser nova- II
A água e o detergente enzimático devem ser eliminados
mente reprocessados antes da utilizac¸ão
no utente, a não
após cada utilizac¸ão. 1,6,8,9
ser que, mediante uma avaliac¸ão de risco, se adote outro
Cat IB
Deve ser realizado um controlo visual para comprovar que
período limite. Cat II o endoscópio está limpo e não está danificado.
O endoscópio deve ser transferido para outra cuba para
A: limpeza preliminar enxaguamento a fim de remover o detergente residual. Todas as superfícies exteriores e todos os canais devem ser
Antes de desconectar o endoscópio, o profissional de saúde submetidos ao enxaguamento com água. Cat IC 15 deve limpar as superfícies externas do tubo de inserc¸ão com Caso a sala de desinfec¸ão não seja adjacente à sala
compressa macia e detergente enzimático, irrigar os canais de limpeza manual, para evitar a circulac¸ão por zonas de
de ar/água, e aspirar vigorosamente a soluc¸ão de deter-
utilizac¸ão comum, o endoscópio deve ser transferido para
gente. Cat. IB 1,5,6,8---10,13 Nos endoscópios em que o canal de o RAE, ou para a tina de desinfec¸ão manual num recipiente
ar/água é combinado, deve-se posicionar e ativar a válvula apropriado a fim de evitar a contaminac¸ão do ambiente.
de modo a permitir a irrigac¸ão do canal.
Durante o transporte para a zona de descontaminac¸ão,
os endoscópios devem ser contidos de modo a prevenir a C: válvulas e componentes desmontáveis
exposic¸ão dos profissionais de saúde, utentes e ambiente
a microrganismos potencialmente infeciosos. Um contentor Antes de utilizac¸ão das tampas das válvulas do canal de
aberto pode ser suficiente se a sala de reprocessamento for biopsia reutilizáveis, assegurar da sua integridade.
244 C. Costa et al.
As superfícies e lúmenes das válvulas e as partes desmon- A água de enxaguamento final deve ser de qualidade:
táveis devem ser limpas e escovilhadas com um detergente livre de bactérias.
enzimático e posteriormente enxaguadas com água limpa No caso da sua utilizac¸ão a seguir, o endoscópio deve antes de serem desinfetadas. ser transportado individualmente para a sala num recipiente
A limpeza ultrassónica dos acessórios reutilizáveis
coberto para evitar a recontaminac¸ão ou dano.
garante a limpeza das áreas de difícil acesso. No caso de não ser utilizado a seguir, as superfícies inter-
Deve ser realizado um controlo visual para garantir que as nas e externas do endoscópio devem ser secas e o endoscópio
válvulas estão visivelmente limpas e não estão danificadas. imediatamente colocado no armário próprio.
As válvulas devem ser reprocessadas de acordo com as
indicac¸ões do fabricante.
As válvulas incluindo as válvulas de irrigac¸ão e as partes B: reprocessamento manual de endoscópios
desmontáveis devem ser mantidas junto com o endoscópio
correspondente de modo a formarem um todo, a fim de O endoscópio deve ser colocado numa tina com a soluc¸ão
garantir a rastreabilidade. desinfetante garantindo que fica completamente imerso na
soluc¸ão.
estar completa-
Todos os canais do endoscópio devem
Secc ¸ão 6:
detergentes e desinfetantes mente preenchidos com desinfetante, usando-se para o
efeito adaptadores de lavagem específicos do endoscópio,
Recomenda-se um detergente enzimático, de baixa
a fim de assegurar o completo contacto com o desinfetante
produc¸ão de espuma, compatível com o endoscópio, e que e eliminac¸ão de espac¸os mortos.
deve ser usado na temperatura e diluic¸ão apropriadas de As válvulas e tampas devem ser desinfetadas com o res-
acordo com as indicac¸ões do fabricante. petivo endoscópio.
O desinfetante utilizado deve ter a marcac¸ão CE e ser A soluc¸ão desinfetante deve ser preparada de acordo com
compatível com todos os endoscópios. A concentrac¸ão e as indicac¸ões do fabricante e deve ser utilizada cumprindo
tempo de contacto durante todo o processo e o período
rigorosamente os tempos de contacto estabelecidos para
de utilizac¸ão devem estar de acordo com as indicac¸ões do
uma desinfec¸ão de alto nível.
fabricante. Cat. IB Se a soluc¸ão é utilizada por mais do que um dia, o teor
Deve haver um registo dos lotes dos desinfetantes e dos do ingrediente ativo deve ser verificado diariamente antes
detergentes, e as respetivas datas de validade. do início da primeira sessão ou conforme indicac¸ão do fabri-
Os endoscópios vindos do exterior devem ser compatíveis cante e o resultado deve ser registado. Se o nível for inferior
com os detergentes e desinfetantes usados na UED. ao indicado, a soluc¸ão deve ser descartada. Cat IA 1,6,8,9,11 Após a desinfec¸ão de nível elevado, o endoscópio e res-
petivos canais devem ser enxaguados com água estéril Secc ¸ão 7: desinfec ¸ão dos endoscópios ou
filtrada para remover a soluc¸ão de desinfec¸ão.
Recomenda-se o uso de reprocessamento automático, por- É preferível o uso de água estéril para o enxaguamento
que permite um ciclo de reprocessamento padronizado e final.
validado, permitindo ainda um registo de todos os passos
A água deve ser descartada após cada uso/ciclo.
do processo e, minimizando a exposic¸ão a químicos e à Se o endoscópio vai ser reutilizado a seguir, o profissi- contaminac¸ão ambiental, facilita o trabalho dos profissio- onal deve verificar se é necessária a secagem manual. No
nais e reduz o risco de dano dos endoscópios. decorrer da secagem manual o profissional de saúde deve
atenc¸ão às partes externas do endoscópio, fiáveis, ao
O reprocessamento manual produz resultados dar especial
controlo do corpo de desde que todos os passos do procedimento sejam cumpridos luz/conectores de vídeo, fichas e toma-
rigorosamente. Contudo, não é possível validar o processo, das.
havendo ainda a exposic¸ão dos profissionais a químicos e a Antes do
armazenamento, os canais devem ser irrigados
1 com álcool etílico ou material infecioso . isopropílico de 70% a 90% e secos com ar comprimido medicinal à pressão indicada pelo fabricante
do endoscópio. Cat IA 1,5,6,8,9,11
A: reprocessador automático de endoscópios
O reprocessador automático de endoscópios (RAE) deve ser Secc ¸ão 8: armazenamento
preferencialmente usado para todos os endoscópios, os quais
devem ser sujeitos numa primeira fase a limpeza manual.
Os endoscópios devem ser armazenados na posic¸ão vertical
Este passo (da limpeza manual) é obrigatório mesmo quando para evitar a retenc¸ão de líquido residual nos canais, e pro-
o fabricante indica que o RAE tem uma fase de lavagem. tegidos para prevenir o risco de contaminac¸ão. As partes
O RAE deve ter o processo validado de acordo com a desmontáveis devem manter-se separadas mas junto com
norma internacional aplicável (ter certificado de conformi- os componentes específicos de cada endoscópio de modo a
dade). garantir a seguranc¸a do procedimento. Cat II 1,6,8,9,11 Todos os endoscópios devem ser devidamente ligados aos Deve existir um procedimento documentado e datado no
conectores apropriados para garantir a irrigac¸ão de todos
caso de se utilizar armário com barreira sanitária (por exem-
os canais. Os profissionais devem verificar as ligac¸ões de plo com indicac¸ões para a verificac¸ão do fluxo de ar filtrado,
todos os canais de trabalho antes do início do ciclo. Cat. para o uso fora de horas). Os armários devem ser utilizados
IB 1,6,8,9,18,19
de acordo com as indicac¸ões do fabricante.
Reprocessamento em endoscopia digestiva 245
Secc ¸ão 9: rastreabilidade Secc ¸ão 12: testes e validac ¸ão
Deve existir um sistema (manual ou eletrónico) para a ras- Deve existir evidência de que o RAE foi validado na treabilidade do ciclo de reprocessamento que identifique o instalac¸ão de acordo com as normas internacionais aplicá-
profissional, tipo e fase de reprocessamento e o doente
veis.
associados a cada endoscópio reprocessado/utilizado e que O RAE deve ser revalidado se houver introduc¸ão de um
possibilite a monitorizac¸ão e auditoria. desinfetante novo.
Cada endoscópio deve possuir um código único de Um profissional deve ser responsável pelos controlos diá-
identificac¸ão, e deve ser implementado um sistema espe- rios, semanais, trimestrais e anuais de acordo com as normas
cífico para endoscópios vindos do exterior. europeias.
O sistema de rastreabilidade deve ser avaliado regular- Deve existir um profissional responsável pela análise mente (pelo menos uma vez por ano) para se assegurar da regular dos resultados obtidos e a implementac¸ão de ac¸ões
sua efetividade. de melhoria quando indicado.
Deve existir um plano de intervenc¸ão que define as medi-
das corretivas.
Secc ¸ão 10: acessórios Quando os resultados não são satisfatórios deve haver
evidências de intervenc¸ão para resoluc¸ão do problema.
O material (escovas, escovilhões, etc.) utilizado para a A Unidade deve ser informada sobre os resultados bacte-
limpeza deve ser preferencialmente de uso único. Caso con- riológicos da água da instituic¸ão/edifício havendo um plano
trário, deve ser descontaminado após cada utilizac¸ão de de intervenc¸ão descrevendo medidas a tomar no caso de
acordo com as indicac¸ões do fabricante. Cat IC e Cat II 1,6,8,9
resultado bacteriológicos positivos.
A limpeza ultrassónica dos acessórios endoscópicos
reutilizáveis e componentes dos endoscópios, com uma
Secc ¸ão
aquisic ¸ão do
equipamento
frequência superior a 30 kHz, deve ser utilizada para remo-
A compra de material endoscópico e equipamento de repro-
ver sujidade e material orgânico de áreas de difícil limpeza
de acordo com as indicac¸ões dos fabricantes. 1,14
cessamento deve
Cat II
envolver, sempre que aplicável, uma
As pinc¸as de biopsia e outros acessórios que
equipa multidisciplinar
(os utilizadores e a Comissão de Con-
trolo da Infec¸ão e o Servic¸o de Saúde Ocupacional, Servic¸o As
têm a indicac¸ão para uso único devem ser descartados após
a utilizac¸ão.
pinc¸as de biopsia e outros acessórios reutilizáveis
de Instalac¸ões e Equipamento).
que violam
a barreira mucosa devem ser submetidos a uma Deve haver um plano com critérios para substituic¸ão e
limpeza mecânica com detergente enzimático e esteriliza-
manutenc¸ão dos endoscópios e do equipamento de repro- cessamento dos (a desinfec¸ão de nível elevado não é suficiente). dos endoscópios (a Rede de Referenciac¸ão
Cat.
IA 1,5,10---12,14,20
Hospitalar de Gastrenterologia) 22 .
Os frascos de água e os tubos conectores, devem ser este-
rilizados ou submetidos a desinfec¸ão de nível elevado de
Nota introdutória
acordo
com as
indicac¸ões do fabricante. Os frascos de água
devem ser esterilizados após cada sessão de endoscopia. A
Na atualidade, a endoscopia digestiva tem vindo a tornar-se
1,8---11,21
água utilizada nos frascos deve ser estéril. Cat. IB um procedimento progressivamente mais complexo e mais
generalizado sendo realizado em todo o país, em hospitais,
clínicas e consultórios médicos.
Secc ¸ão 11: manutenc ¸ão
A descontaminac¸ão apropriada de material e equipamen-
tos utilizados em endoscopia digestiva é uma componente
Deve existir um registo da manutenc¸ão preventiva e das
essencial dos programas de Seguranc¸a do Doente e Quali-
reparac¸ões dos endoscópios de acordo com as instruc¸ões do dade das Instituic¸ões de Saúde.
fabricante. Assim, cumprindo o plano de ac¸ão do Programa Nacio- Deve existir um registo da manutenc¸ão preventiva e nal de Controlo de Infec¸ão (PNCI) e por determinac¸ão do
reparac¸ões do RAE de acordo com as instruc¸ões do fabri-
Diretor-Geral da Saúde foi criado um Grupo de Trabalho para
cante. desenvolver as «Recomendac ¸ões para o reprocessamento O RAE deve ter um plano de manutenc¸ão. em Endoscopia Digestiva» por Despacho n. ◦ 11/2011 a fim
Deve existir um registo específico do
de uniformizar a prática baseada na evidência seguindo as
plano de manutenc¸ão e desinfec¸ão de qualquer sistema de orientac¸ões estabelecidas a nível europeu. O Grupo de Tra-
purificac¸ão de água do RAE. balho insere-se no âmbito da Divisão de Seguranc¸a do Doente
Deve existir um registo da manutenc¸ão preventiva e do Departamento da Qualidade na Saúde.
reparac¸ões da tina ultrassónica de acordo com as instruc¸ões
do fabricante.
Deve existir um registo de higienizac¸ão periódica do sis- Anexo 1. Categorizac ¸ão dos níveis de
tema do RAE. evidência das recomendac ¸ões
Deve existir um registo da manutenc¸ão preventiva e
reparac¸ões dos armários de armazenamento de acordo com As categorias dos CDC e do HICPAC são estabelecidas do
as instruc¸ões do fabricante. seguinte modo 9 :
246 C. Costa et al.
• Categoria IA. Fortemente recomendado para
Desinfetante --- substância ou produto químico capaz de
implementac¸ão e de grande evidência baseada em
destruir os microrganismos de uma superfície ou DM. Os
estudos experimentais bem conduzidos, clínicos, ou
desinfetantes são categorizados por níveis de risco conforme
estudos epidemiológicos. o grau de desinfec¸ão requerido.
• Categoria IB. Fortemente recomendado para
Desinfetante de nível elevado --- um desinfetante que,
implementac¸ão, baseada na racionalidade e evidên-
desde que utilizado de acordo com as instruc¸ões do cia sugestiva de alguns estudos experimentais, clínicos, fabricante, elimina todos os microrganismos vegetativos, ou estudos epidemiológicos. micobactérias, vírus não-lipídicos e lipídicos, esporos fún-
• Categoria IC. Recomendac¸ão sugerida por normas ou
gicos e alguns, mas não todos, esporos bacterianos.
recomendac¸ões de outras federac¸ões e associac¸ões. Detergente --- um composto ou mistura de compostos que
• Categoria II. Recomendac¸ão sugerida para implementac¸ão tem como objetivo facilitar a limpeza (remoc¸ão de suji-
baseada na clínica sugestiva ou estudos epidemiológicos, dade).
ou uma forte fundamentac¸ão teórica. Dispositivo Médico de Uso Múltiplo/Reutilizável ---
DM que tem indicac¸ão do fabricante para ser reproces-
Anexo 2. Legislac ¸ão aplicável sado/reutilizado. O fabricante deve indicar os métodos de
lavagem, desinfec¸ão ou esterilizac¸ão adequados. Neste con-
Decreto-lei n. ◦ 145/2009, de 17 de junho, que transpõe para texto refere-se aos vários acessórios para os endoscópios,
a ordem jurídica interna as seguintes incluindo ansas de polipectomia, pinc¸as de biopsias, esfinc-
Diretivas Comunitárias: terótomos, equipamento de succ¸ão de ar, de flush de água.
Dispositivo Médico de Uso Único --- Um DM previsto para
a. 2007/47/CE -altera a Diretiva 90/385/CEE apenas um uso num utente individual. O seu processo de
b. 90/385/CEE --- DM implantáveis ativos fabrico não garante a seguranc¸a do reprocessamento. Neste
c. 93/42/CEE --- relativa aos DM contexto refere-se
aos acessórios fornecidos na forma esté-
d. 98/8/CE --- relativa à colocac¸ão de produtos biocidas no ril. A abertura da embalagem implica o uso imediato do mercado
DM
Enxaguamento --- remoc¸ão de resíduos de detergente ou
Decreto-lei n. ◦ 441/91, de 14 de novembro, que estabe- desinfetante com água corrente potável, destilada ou esté- lece os princípios que visam promover a ril.
Esterilizac ¸ão --- processo de destruic¸ão seguranc¸a, higiene e saúde no trabalho, nos termos dis- ou eliminac¸ão postos nos artigos 59. ◦ e 64. ◦ da total de todos os microrganismos na forma vegetativa ou
esporulada. Por se tratar de um método probabilístico a efi- Constituic¸ão
International Organization for Standarization EN ISO
cácia do resultado final depende do nível de contaminac¸ão
15883. Washer-disinfectors --- Part 1: General existente. Daí decorre a importância fundamental do proce-
tests, 2006; limpeza.
Requirements, terms and definitions and dimento de
International Organization ISO --- processo
for Standarization EN Limpeza
de remoc¸ão de sujidade incluindo a
remoc¸ão dos microrganismos 15883. Washer-disinfectors --- Part 4: e eliminac¸ão de matéria orgâ-
nica (sangue e secrec¸ões) que Requirements and tests for washer-disinfectors favorece o desenvolvimento
bacteriano no meio ambiente, employing chemical disinfection for thermolabile superfícies ou DM.
endoscopes. 2008 Limpeza
preliminar --- irrigac¸ão e enxaguamento dos canais e limpeza da superfície externa do endoscópio no
local de
utilizac¸ão.
Anexo 3.
Definic ¸ões
Limpeza ultrassónica --- sistema de limpeza em meio líquido através de um processo de «cavitac ¸ão» e que permite
Contaminac ¸ão --- presenc¸a de matéria orgânica ou outra suji- a remoc¸ão de sujidade de locais inacessíveis.
dade e/ou microrganismos nos DM e superfícies. Máquinas lavadoras/desinfetadoras - máquinas destina-
Descontaminac ¸ão/reprocessamento --- Tratamento dado das a limpeza e desinfec¸ão de DM num sistema fechado
ao material para tornar seguro o seu manuseamento (pode
obedecendo ao estipulado na EN 15883. Os RAE estão incluí-
ser o processo completo até à esterilizac¸ão). Tem em conta dos nesta categoria assim como as máquinas de lavagem e
a contaminac¸ão consequente à utilizac¸ão dada ao material --- desinfec¸ão do instrumental cirúrgico.
inclui a limpeza. Os processos subsequentes a que o material Reprocessador Automático de Endoscópios (RAE) ---
vai ser sujeito dependerão do uso a que ele se destina. equipamento de desinfec¸ão automática que tem como obje-
Desinfec ¸ão --- processo físico (calor) ou químico (subs- tivo desinfetar os endoscópios num sistema fechado. O ciclo
tâncias químicas) utilizado para reduzir a presenc¸a de inclui obrigatoriamente desinfec¸ão e enxaguamento e pode
microrganismos viáveis para níveis que não constituam um incluir lavagem prévia e secagem final. Não dispensa a lava-
risco para os utentes. Não elimina necessariamente todas as gem manual prévia.
formas vegetativas e pode não afetar as formas esporuladas. Unidade de Endoscopia Digestiva --- unidade funcional
Este procedimento deve ser executado logo após a limpeza. onde se realizam exames de endoscopia digestiva.
Reprocessamento em endoscopia digestiva 247
Anexo 4. Fluxograma do reprocessamento do
endoscópio
Anexo 5. Sistema de classificac ¸ão de
Spaulding
O sistema de classificac¸ão de Spaulding define os dispositivos Baixo
É todo aquele que entra Limpeza
médicos (DM) de acordo com o risco de infec¸ão, aplica-se
9 Material
em contacto apenas com
também aos endoscópios não-crítico a pele íntegra ou que
Risco
Definic¸ões Recomendac¸ões
não entra em contacto
Elevado Todo aquele que penetra Limpeza seguida de direto com o doente
Material
nos tecidos subepiteliais, Esterilizac¸ão (1)
crítico
no sistema vascular e
outros órgãos isentos de
flora microbiana própria a) Até à sua utilizac¸ão, este material deve permanecer (estéreis), bem como na embalagem hermeticamente fechada. Logo que a todo o que esteja embalagem seja aberta ou se por qualquer motivo for
diretamente ligado com danificada, o material deixa de ser considerado estéril.
eles.
b) Classificac¸ão dos desinfetantes:
ex. Pinc¸as de biópsia; • Nível elevado --- destrói todos os microrganismos esfincterótomos
incluindo esporos
Médio É todo aquele que entra Limpeza seguida de • Nível médio --- destrói bactérias vegetativas, BK, mai-
Material
em contacto com as Desinfec¸ão de nível oria dos vírus e fungos
semicrítico membranas mucosas ou elevado (2; 3) • Nível baixo --- destrói as bactérias Gram positivas, algu-
com a pele não-íntegra (Excec¸ão:
mas Gram negativas, vírus lipídicos e alguns fungos
mas geralmente não instrumentos usados c) Na utilizac¸ão dos desinfetantes deve-se ter sempre em penetra tecidos estéreis. na vagina ou colo do conta as indicac¸ões do fabricante no que se refere às p. ex: endoscópios útero, p.ex. diluic¸ões, manuseamento, conservac¸ão e prazos de vali-
gastrintestinais espéculos que devem dade. Os desinfetantes devem ser manipulados com luvas
ser esterilizados) de nitrilo ou de tipo doméstico. Relembra-se a importân-
cia da lavagem das mãos no fim do procedimento.
248 C. Costa et al.
Anexo 6. Produtos químicos utilizados no Ortoftalaldeído (OPA)
reprocessamento de material endoscópico Vantagens Desvantagens
Os produtos químicos utilizados no reprocessamento
• A soluc¸ão é estável • Ac¸ão lenta contra esporos
de material endoscópico devem ser concebidos e durante cerca de 14 dias (2 bacterianos;
fabricados de acordo com a Diretiva dos Dispositivos
semanas);
• Não há dados suficientes sobre
Médicos • É estável a um pH de 3-9; a fixac¸ão nos materiais;
• Tem excelente • Requer maior tempo de
compatibilidade com os exposic¸ão para ser eficaz contra
a) Os detergentes são classificados como produtos para DM dispositivos médicos e não micobactérias resistentes ao
causa dano aos mesmos; glutaraldeído; rótulo.
de classe I sendo identificados pela marcac¸ão CE no
• Pode ser usado quer nos • É muito importante a
b) Os desinfetantes são produtos para DM de classe ii
RAE quer na desinfec¸ão monitorizac¸ão da sua
devendo ostentar, para além da marcac¸ão CE, um
manual;
concentrac¸ão;
código de 4 dígitos para identificar o organismo
• Estudos demonstram uma • Provoca coagulac¸ão e fixac¸ão
responsável. eficácia microbiológica de proteínas;
melhor quando comparada • É irritante para os olhos, vias
com o glutaraldeído; respiratórias e pele; deve ser
Os produtos químicos selecionados devem ser com-
• A eficácia do OPA quando usado em contentores fechados;
patíveis com o material endoscópico e os RAE. Esta
comparada com o a ventilac¸ão é recomendada;
compatibilidade deve ser confirmada pelos fabricantes. glutaraldeido é maior, e o • Pode causar reac¸ões «tipo
Os ingredientes dos detergentes devem ser compatí-
seu tempo de vida é longa anafilático» com uso
veis com o desinfetante e não alterar a sua atividade
(2 semanas) repetido/prolongado
no caso de ficarem resíduos após o enxaguamento. Para
garantir a compatibilidade, a ESGENA recomenda que Ácido peracético
Estes produtos são apresentados em formulac¸ões líqui- sejam utilizados detergentes e desinfetantes do mesmo das, em pó ou mistos. Podem ser usados à temperatura fabricante.
desinfetantes ambiente
ou requerer temperaturas superiores.
Podem
Embora os
existam
em formulac¸ões
líqui- ainda necessitar de
diluic¸ão.
das e em pó, devem ser preferidas as formulac¸ões líquidas (as formulac¸ões em pó apresentam o risco de poder reter Ácido Peracético
grãos nas tubagens com possível entupimento). Vantagens
Desvantagens
Os seguintes fatores podem influenciar a escolha do
• Desinfec¸ão de ac¸ão • Dependente do pode ser desinfetante: pH rápida, de alto nível e irritante para a pele, olhos e vias
com atividade respiratórias; forte odor a vinagre;
a) Processo de diluic¸ão esporicida; a ventilac¸ão é recomendada;
b) Estabilidade da soluc¸ão • Dependendo da • A compatibilidade do material
c) Número de reutilizac¸ões possíveis formulac¸ão, as soluc¸ões depende do pH e da temperatura;
d) Avaliac¸ão da concentrac¸ão de utilizac¸ão
são • É necessária uma avaliac¸ão de
estáveis de 1 a 14 dias; com os e) Custo direto compatibilidade
f) Custos indiretos (p.ex. RAE apropriado, espac¸o de arma- • Não há reac¸ão química endoscópios e processadores;
zenamento, condic¸ões de uso, medidas de protec¸ão dos com resíduos proteicos • É possível a coagulac¸ão proteica
(i.é. não é fixativo) dependendo do pH (ácido) profissionais
g) Recomendac¸ões do fabricante de material endoscópico Dióxido de cloro
Não está comercializado em Portugal. Existem
formulac¸ões apenas para os RAE.
Dióxido de Cloro Os desinfetantes usados no reprocessamento de material Vantagens Desvantagens
Os desinfetantes de dispositivos médicos usados manual-
mente ou nos RAE devem cumprir a norma EN ISO 14885.
endoscópico devem ser de nível elevado: ter um espetro
• Desinfec¸ão rápida, de • Irritante para a pele, vias
alargado de atividade contra bactérias, fungos, micobacté- alto nível com respiratórias e olhos; forte odor a
rias, vírus lipídicos e não-lipídicos, por exemplo: produtos atividade esporicida; cloro: a ventilac¸ão é recomendada;
oxidantes (acido peracético, dióxido de cloro) e aldeídos
• Soluc¸ão em uso • É necessária uma avaliac¸ão de
(glutaraldeído, ortoftalaldeído). estável de 7 a 14 dias; compatibilidade com os
Substâncias como álcoois, fenólicos, compostos de amó- endoscópios e processadores;
nio, não são recomendadas para desinfec¸ão de material
• Alguns países restringem o seu uso
endoscópico por não apresentarem um espetro de atividade (contaminac¸ão de águas residuais
adequado. com cloro);
Nota: A nível nacional, o glutaraldeído foi retirado do • Produz descolorac¸ão da camada
mercado devido aos riscos para a saúde dos profissionais. de plástico dos endoscópios sendo
Ortoftalaldeído: Estes produtos apresentam-se em
apenas uma alterac¸ão cosmética
soluc¸ão contendo 0,55% de substância ativa.
Reprocessamento em endoscopia digestiva 249 Água ácida eletrolisada 2. Especificac ¸ões do processo para os reprocessadores
Estes desinfetantes são produzidos in loco, funcionam a automáticos de endoscópios
um pH = < 2,7, um potencial de oxidac¸ão-reduc¸ão >1.000 mV Os RAE devem apresentar as seguintes características,
e uma concentrac¸ão de cloro livre libertado de 10 ± 2 ppm. que podem ser diferentes conforme os modelos:
Água ácida eletrolisada
a) Monitorizac¸ão da renovac¸ão do desinfetante.
Vantagens Desvantagens
b) Sistema de aquecimento para manter o desinfetante à
• Desinfec¸ão rápida, de alto • Desativac¸ão rápida da temperatura especificada.
nível com atividade soluc¸ão em uso, na c) Adaptadores para o reprocessamento de todo o equipa-
esporicida;
presenc¸a de carga orgânica; mento compatível.
• A soluc¸ão em uso é • É possível a coagulac¸ão d) Um sistema de tratamento da água de enxaguamento que
reutilizável durante o proteica dependente do evite a recontaminac¸ão dos endoscópios durante a fase
tempo de funcionamento do valor do pH (ácido); de enxaguamento.
gerador; • Alguns países restringem o e) Autodesinfec¸ão da água e dos componentes do sistema
• Não afeta a pele, olhos e seu uso (contaminac¸ão de de tratamento da água.
vias respiratórias dos águas residuais com cloro); f) Interface de impressão para registo dos dados da profissionais
• É necessária uma desinfec¸ão.
avaliac¸ão de g) Indicador de falhas.
compatibilidade com os
endoscópios e 3. Recomendac ¸ões específicas para os reprocessadores
processadores
automáticos de endoscópios
É necessário cumprir numerosos passos manualmente antes que o endoscópio possa ser colocado no RAE. A lim-
Anexo 7. Características dos reprocessadores peza manual prévia é obrigatória. É necessário garantir que
automáticos de endoscópios os resíduos dos detergentes são removidos de forma eficaz
porque podem interferir com a atividade do desinfetante no
Reprocessamento em RAE RAE.
1. Definic ¸ões e critérios básicos para os RAE Os fatores de processo mais importantes e determinantes
Os RAE têm como func¸ão a desinfec¸ão de endoscópios
do resultado final adequado são:
flexíveis num sistema fechado, após uma limpeza manual.
Assim, o seu ciclo inclui a desinfec¸ão e o enxaguamento mas a) cumprimento rigoroso das instruc¸ões do fabricante no
não a limpeza. Existem diversos modelos no mercado. Todos que se refere aos procedimentos prévios;
eles fazem a desinfec¸ão e o enxaguamento mas, para além b) nos casos de reutilizac¸ão das soluc¸ões de desinfetante,
disso, alguns modelos oferecem adicionalmente: são necessários testes regulares de eficácia (de acordo
com as indicac¸ões do fabricante dos produtos químicos e
a) Um teste de fugas integrado dependendo da frequência de utilizac¸ão).
b) Um enxaguamento automático com água.
A Bibliografia secagem opcional após o enxaguamento final pode ser
1. Beilenhoff U, Neukmann CS, Rey JF, Biering H, Blum R, Cimbro M, et al. ESGE-ESGENA guideline: Cleaning and disin-
de 2 tipos:
Secagem entre exames, que envolve remoc¸ão dos fluidos
residuais das faces externas e do interior dos canais. fection in gastrointestinal endoscopy. Update 2008 Endoscopy.
Secagem alargada no final do dia de trabalho de 2008;40:939---57.
forma a manter os endoscópios armazenados em seguranc¸a 2. Petersen BT, Chennat J, Cohen J, Cotton PB, Greenwald DA,
pelo menos de um dia para o outro, para prevenir a Kowalski TE, et al. Multisociety Guideline on Reprocessing
recontaminac¸ão pelos líquidos residuais, ou por fatores
Flexible GI Endoscopes: 2011. Infect Control Hosp Epidemiol.
ambientais.
2011;32:527---37.
Atendendo a que estes equipamentos não integram uma 3. Rutala WA, Weber DJ e HICPAC. Guideline for disinfection
fase de limpeza, esta deve ser efetuada manualmente. A and
sterilization in healthcare facilities. 2008 [consultado máquina deve ser eficaz, segura e confiável, e suportar o 8 Jun 2011]. Disponível em: http://www.cdc.gov/hicpac/ Disinfection Sterilization/3 0disinfectEquipment.html
design dos endoscópios e respetivos acessórios.
4. British
Society of Gastroenterology. Cleaning and disinfection
Os RAE devem preencher os seguintes critérios básicos: of equipment for gastrointestinal endoscopy: report of a Wor-
king Party of the British Society of Gastroenterology Endoscopy
a) Assegurar a completa irrigac¸ão de todos os canais
Committee. Gut. 1998;42:585---93.
endoscópicos incluindo: biopsia, succ¸ão, ar/água, canais 5. Recommended practices for high level disinfection. In: Perio-
auxiliares e elevadores. perative standards and recommended practices. Denver (CO):
2010. p. 389---404. Evitar a contaminac¸ão cruzada de endoscópios desinfe-
b) AORN Inc;
tados a seguir. 6. Banerjee
S, Shen B, Nelson DB, Lichtenstein DR, Baron TH, Anderson AA, et al. Infection Control during GI endoscopy. Gas-
c) Reduzir o risco de exposic¸ão dos olhos, pele e trato res- trointest Endosc. 2008;67:781---90.
piratório aos produtos químicos utilizados no processo
7. Recommended practices cleaning and processing endosco- (sistema fechado). pes and endoscope accessories. In: Perioperative standards
250 C. Costa et al.
and recommended practices. Denver (CO): AORN Inc; 2010.
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Guideline for use of high level disinfectants and steri-
definitions and tests. 2006 [consultado 11 Mai 2011]. Disponível
lants for reprocessing flexible gastrointestinal endoscopes.
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